PLANEJAMENTO DA AÇÃO DIDÁTICA
Na prática pedagógica atual o processo de planejamento do ensino tem sido objeto de constantes questionamentos quanto à sua validade como instrumento eficaz de melhoria qualitativa do trabalho do professor. Os motivos de tais questionamentos são vários e se apresentam em diferentes níveis na prática docente. A vivência do cotidiano escolar tem evidenciado situações bastante questionáveis neste sentido.
1. Os currículos e os conteúdos
Os objetivos educacionais propostos nos currículos dos cursos apresentam-se confusos e desvinculados muitas vezes da realidade social. Os conteúdos a serem trabalhados, por outro lado, são definidos de forma autoritária, pois os professores normalmente não participam desta tarefa. Nestas condições, tendem a se mostrarem sem ligações significativas com as experiências de vida dos alunos, os seus interesses e as suas necessidades.
2. Os recursos de ensino
Os recursos disponíveis para o desenvolvimento do trabalho didático tendem a ser considerados como meros instrumentos de ilustração das aulas, reduzindo-se, dessa maneira, a equipamentos e objetos, muitas vezes até inadequados aos objetivos e conteúdos estudados.
3. A metodologia de ensino
No que diz respeito à metodologia de ensino, observa-se que esta tem se caracterizado por uma cultura escolar em que se predomina atividades transmissoras de conhecimentos, com pouco ou nenhum espaço para a discussão e a análise crítica dos conteúdos. O aluno sob esta situação tem se tornado mais um sujeito passivo do que ativo no processo de ensino-aprendizagem e, consequentemente, o seu pensamento e a sua reflexão crítica têm sido mais bloqueados do que estimulados.
4. A avaliação da aprendizagem
A avaliação da aprendizagem tem se resumido ao ritual das provas periódicas (avaliação somativa ao invés da avaliação formativa), por meio das quais é verificada a quantidade de conteúdos assimilada pelo aluno.
5. O distanciamento entre o processo de ensino-aprendizagem e a realidade sócio-histórica dos alunos
O professor, assumindo a sua autoridade institucional, geralmente termina por direcionar o processo de ensino-aprendizagem de forma isolada dos aspectos históricos presentes na experiência de vida dos alunos. Dessa maneira, o planejamento do ensino apresenta-se desvinculado da realidade social, caracterizando-se como uma ação mecânica e burocrática do docente, pouco contribuindo para elevar a qualidade da ação pedagógica desenvolvida no âmbito escolar.
6. Como a cultura escolar normalmente percebe o Planejamento do Ensino?
No meio escolar, quando se faz referência ao Planejamento de Ensino, a ideia vigente é a que o identifica com o processo através do qual são definidos os objetivos, o conteúdo programático, os procedimentos de ensino, os recursos didáticos, a sistemática de avaliação da aprendizagem, assim como a bibliografia básica a ser consultada no decorrer de um curso, série ou disciplina de estudo. Por conseguinte, este é o padrão de planejamento adotado por grande parte dos professores e que, em nome da eficiência do ensino disseminada pela concepção tecnicista de educação, passou a ser valorizado apenas em sua dimensão técnica.
Tal situação dos componentes do plano de ensino - de maneira fragmentária e desarticulada do todo social - tem gerado a concepção de planejamento incapaz de dinamizar e facilitar o trabalho didático. Contudo, o processo de planejamento visto sob uma perspectiva crítica da educação deve extrapolar a simples tarefa de elaboração de um documento contendo todos os componentes tecnicamente recomendáveis.
7. O que é o Planejamento de Ensino ou da Ação Didática?
Planejar o ensino é prever as ações e os procedimentos que o professor realizará junto aos seus alunos e a organização das atividades discentes e da experiência de aprendizagem, visando atingir os objetivos educacionais estabelecidos. Neste sentido, o Planejamento de Ensino torna-se a operacionalização do currículo escolar.
No que diz respeito ao aspecto didático, pode-se afirmar que planejar é, em linhas gerais: (a) Analisar as características da clientela (aspirações, necessidades e possibilidades dos alunos); (b) Refletir sobre os recursos disponíveis; (c) Definir os objetivos educacionais considerados mais adequados para a clientela em questão; (d) Selecionar e estruturar os conteúdos a serem assimilados, assim como as atividades e experiências de construção do conhecimento consideradas mais adequadas para a realização dos objetivos estabelecidos; (e) Prever e escolher os recursos de ensino mais adequados para estimular a participação dos alunos nas atividades de aprendizagem; (f) Prever os procedimentos de avaliação mais condizentes com os objetivos propostos.
O Planejamento da Ação Didática também é um processo que envolve operações mentais como: (a) Analisar; (b) Refletir; (c) Definir; (d) Selecionar; (e) Estruturar; (f) Distribuir ao longo do tempo; (g) Prever formas de agir e organizar.
O processo de planejamento da ação docente é o plano didático. Em geral, o plano didático assume a forma de um documento escrito, pois é o registro das conclusões do processo de previsão das atividades docentes e discentes.
O plano é apenas um roteiro, um instrumento de referência e, como tal, é abreviado, esquemático, aparentemente sem vida. Compete ao professor que o elaborou dar-lhe vida e relevância no ato de sua execução, impregnando-lhe de sua personalidade e entusiasmo, enriquecendo-o com a sua habilidade e expressividade.
Referência:
HAIDT, Regina Célia Cazaux. Curso de Didática Geral. 2. ed. São Paulo: Ática, 1995.
Comentários
Postar um comentário
Evitar comentários que: (1)sejam racistas, misóginos, homofóbicos ou xenófobos; (2) difundam a intolerância política; (3) atentem contra o Estado Democrático de Direito; e (4) violem a honra, dignidade e imagem de outras pessoas. Grato pela compreensão.