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Mostrando postagens com o rótulo Carolina Maria de Jesus
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  EDUCAÇÃO E INFÂNCIA (Extraído da obra "Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada" de Carolina Maria de Jesus - Escritora negra brasileira, catadora de papéis e moradora da Favela do Canindé, em São Paulo, 1914-1977) O dia está triste, a minha alma também. Deixei o João fechado, estudando. Disse-lhe que o homem que erra está vacinado na opinião pública. O que eu observo é que os que vivem na favela não podem esperar boa coisa do ambiente. São os adultos que contribuem para delinquir os menores. Veio a D. Silvia reclamar contra os meus filhos. Que os meus filhos são mal educados. Mas eu não encontro defeito nas crianças. Nem nos meus nem nos dela. Sei que criança não nasce com senso. Quando falo com uma criança lhe dirijo palavras agradáveis. Sei dominar meus impulsos. Tenho apenas dois anos de grupo escolar, mas procurei formar o meu caráter. Refleti: preciso ser tolerante com os meus filhos. Eles não têm ninguém no mundo a não ser eu. Como é pungente a condiçã...
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  POBREZA, DISCRIMINAÇÃO E TRAUMA (Para reflexões sobre a "Humanidade") Por CAROLINA MARIA DE JESUS (Escritora negra brasileira, catadora de papéis e moradora da Favela do Canindé, em São Paulo, 1914-1977) - Não tenho força física, mas as minhas palavras ferem mais do que espada. E as feridas são incicatrizáveis. As mulheres pobres não tinham tempo disponível para cuidar de seus lares. Às seis da manhã, elas deviam estar nas casas das patroas para acenderem o fogo e prepararem a refeição matinal. Deixavam o trabalho às onze da noite. O homem pobre deveria gerar, nascer, crescer e viver sempre com paciência para suportar as falácias dos donos do mundo. Porque só os homens ricos podiam dizer “Sabe com quem está falando?” para mostrar sua superioridade. Se o filho do patrão espancasse o filho da cozinheira, ela não deveria reclamar para não perder o emprego. Mas se a cozinheira tinha filha, pobre negrinha! O filho da patroa a utilizaria para o seu noviciado sexual. Menina...
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  A obra "Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada" - Carolina Maria de Jesus Carolina Maria de Jesus foi uma autora negra, favelada e catadora de papel que viveu na favela do Canindé, em São Paulo. A narrativa de "Quarto de Despejo" foi iniciada em 1955, mas ela não se encerra no final da edição. Há ainda hoje resquícios das temáticas que Carolina retrata em sua vida, que nos possibilitam uma reflexão profunda sobre a sociedade atual: a politicagem, a violência doméstica, o descaso com a população menos favorecida, preconceitos e a educação. Tais questões devem ser pensadas e voltadas à formação do indivíduo como ser social e ativo, consciente da sua realidade, com perspectivas de possíveis mudanças transformadoras. A oportunidade da publicação do diário "Quarto de Despejo" emerge com o jornalista Audálio Dantas, em 1958, que, vivenciando uma fase da cultura de comunicação de massas no Brasil, tornava público o jornalismo de den...