QUAL HISTÓRIA ENSINAR PARA AS CRIANÇAS E OS JOVENS NAS SALAS DE AULA DO BRASIL?

Por JORGE ESCHRIQUI
A resposta ao questionamento sobre o que ensinar em História passa pela percepção de que é impossível ensinar toda a história de todos os tempos e de todas as sociedades. Diante de tal constatação, faz-se necessária a seleção de tema essenciais para o ensino desta disciplina que possibilitem aos alunos a reflexão, o questionamento e a intervenção consciente na realidade na qual estão inseridos, enxergando-se como sujeitos ativos da História e agentes transformadores da sociedade.
Entretanto, para que este objetivo da disciplina seja alcançado, é importante possibilitar aos discentes uma aprendizagem fundamentada em uma abordagem dos acontecimentos históricos como resultado das ações de todos os homens e não apenas de "grandes personagens" (governantes, generais, diplomatas, papas, etc.) e as conquistas de direitos políticos, sociais e civis como fruto de lutas, negociações e conquistas de diversos grupos sociais ao longo do tempo. Ademais, é fundamental relacionar os conteúdos ensinados com os problemas enfrentados pela sociedade atual (relação entre passado e presente) tais como o racismo, as desigualdades sociais e o acesso da população a serviços públicos de qualidade de maneira que a História seja um importante instrumento de combate contra um processo de "amnésia social" e perda de identidade imposto pelo mercado em um mundo globalizado que tenta estabelecer padrões culturais universais em nome de um consumismo intenso e pelos diferentes meios de comunicação que divulgam diariamente um volume enorme de informações e explicações simplistas sobre os acontecimentos, que muitas vezes são desvinculadas de uma análise mais aprofundada da realidade e desconectadas do passado.
Tais objetivos acima citados podem ser atingidos por meio de práticas pedagógicas em sala de aula que se baseiem em uma organização curricular da disciplina por meio de recortes temático-conceituais que englobem temas e questões (democracia, trabalho, cidadania, racismo, etc.) que perpassam os conteúdos tradicionais de História (democracia ateniense, sistema feudal, expansão europeia, formação dos Estados Nacionais, conquista e colonização da América, revoluções liberal-burguesas, imperialismo, guerras mundiais e outros); do desenvolvimento das noções temporais de curta (acontecimento), média (conjuntura) e longa duração (estrutura), observando-se as semelhanças, diferenças, rupturas e permanências ao longo do processo histórico; e da compreensão de conceitos e do estabelecimento de relações comparativas dos problemas atuais com os de outros tempos através do desenvolvimento da capacidade de leitura e escrita possibilitada pelo trabalho de interpretação de diversos tipos de documentos (escritos, iconográficos, musicais, etc.).



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