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  UM SOPRO DE VIDA Por CLARICE LISPECTOR Isto não é um lamento, é um grito de ave de rapina Irisada e intranquila O beijo no rosto morto Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém Provavelmente a minha própria vida Viver é uma espécie de loucura que a morte faz Vivam os mortos porque neles vivemos De repente as coisas não precisam mais fazer sen­tido Satisfaço-me em ser Tu és? Tenho certeza que sim O não sentido das coisas me faz ter um sorriso de complacência De certo tudo deve estar sendo o que é. Quando acabardes este livro chorai por mim um aleluia Quando fechardes as últi­mas páginas deste malogrado e afoito e brincalhão li­vro de vida então esquecei-me Que Deus vos abençoe então e este livro acaba bem Para enfim eu ter re­pouso Que a paz esteja entre nós, entre vós e entre mim Estou caindo no discurso? que me perdoem os fiéis do templo: eu escrevo e assim me livro de mim e posso então descansar. Referência: LISPECTOR, Clarice. Um sopro de vida (Pulsaçõ...
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  AUTO DE NATAL "MORTE E VIDA SEVERINA" (Mensagem de Natal para a reflexão sobre o verdadeiro sentido da data. Leiam calmamente cada trecho que escolhi do livro e reflitam como nascem em todos os cantos do Brasil um menino Jesus diariamente apesar dos desafios da vida. Natal é a celebração do recomeçar do ciclo da vida com novas esperanças!) Por JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1) APROXIMA-SE DO RETIRANTE O MORADOR DE UM DOS MOCAMBOS QUE EXISTEM ENTRE O CAIS E A ÁGUA DO RIO: — Severino, retirante, o meu amigo é bem moço; sei que a miséria é mar largo, não é como qualquer poço: mas sei que para cruzá-la vale bem qualquer esforço. — Seu José, mestre carpina, e quando é fundo o perau? Quando a força que morreu nem tem onde se enterrar, por que ao puxão das águas não é melhor se entregar? — Severino, retirante, o mar de nossa conversa precisa ser combatido, sempre, de qualquer maneira, porque senão ele alarga e devasta a terra inteira. — Seu José, mestre carpina, e e...