AS DIVERSAS CONCEPÇÕES DE HISTÓRIA QUE OS PROFESSORES DA DISCIPLINA NA EDUCAÇÃO BÁSICA DEVERIAM DOMINAR...
Por JORGE ESCHRIQUI
O mais aspecto mais significativo da História diz respeito ao carácter simultaneamente objetivo e subjetivo da ciência histórica.
Por um lado, a cientificidade e a validade acadêmica (a aceitação e o reconhecimento do trabalho do historiador pelos demais colegas de universidade) do conhecimento histórico estão baseadas na utilização de um arcabouço teórico-metodológico, enquanto resultado de séculos de estudos sobre Teoria da História, Filosofia da História e Historiografia, que possibilita as práticas de heurística (levantamento de dados e informações presentes em diferentes tipos de fontes) e hermenêutica (técnicas de análise de documentos que possibilitam se comprovar a ocorrência de certos fenômenos e fatos históricos). Assim, constitui-se uma pesquisa que busca resgatar para o tempo presente as ações de diversos personagens em um determinado contexto temporal e espacial.
Por outro lado, não há como se negar que influenciam, desde o início da pesquisa em História, fatores subjetivos como: (A) O fato de que os documentos nunca retratam o passado como ele realmente foi, pois as fontes são o resultado de um construto intelectual de um autor que seleciona, prioriza, coloca em segundo plano ou mesmo nega a atuação de determinados sujeitos históricos em detrimento ou benefício de outros de maneira a constituir uma narrativa que fortalece a perspectiva de membros de certos segmentos sociais sobre um fenômeno ou fato histórico. Afinal, o documento é uma produção cultural característica de uma sociedade e época, refletindo nele a biografia, as correntes de pensamento e o grupo social, político, econômico ou cultural do autor (relação entre passado e presente); (B) A seleção dos temas de estudo pelo historiador se dá por questões de afinidade, assim como a escolha de certos enfoques teórico-metodológicos que resulta na ênfase a determinados aspectos do passado; e (C) As demandas do presente direcionam os questionamentos a serem feitos ao passado, possibilitando a compreensão do mundo e momento atuais e a orientação da ação dos homens, a partir dos referenciais de ação e valores culturais de tempos passados, no sentido de se construir um futuro melhor (relação entre presente e passado).
A História é a ciência do estudo da ação dos homens no tempo, cujo objetivo principal é, segundo o historiador alemão Jörn Rüsen em "Razão histórica: teoria da História, os fundamentos da ciência histórica", despertar nos indivíduos uma consciência histórica. Tal consciência histórica é uma espécie de orientação temporal, ou seja, um processo cognitivo que possibilita ao ser humano se situar no fluxo do tempo. A partir dela, o indivíduo usa a experiência do passado para orientar o seu agir no presente e projetar uma nova realidade no futuro a partir de perspectivas de ação (relação entre passado, presente e futuro). É a consciência histórica que transforma o tempo natural, caracterizado pela morte que se constitui em um obstáculo para a perpetuação das ações e valores culturais, em um tempo humano ou cultural, marcado pela eternização dos personagens, das ações e dos fatos históricos através da memória, criando-se, assim, uma identidade entre os homens do presente e os seus antepassados.
As três principais linhas teórico-metodológicas da ciência histórica são relevantes pelos seguintes motivos: (A) A corrente positivista proporcionou o desenvolvimento das técnicas de análise criteriosa dos documentos e dos princípios básicos para a fundamentação científica para os estudos dos fatos históricos; (B) A corrente marxista propiciou a introdução de fatores econômicos e estruturais para a explicação de fenômenos históricos, iniciando-se uma interdisciplinaridade entre a História e a Economia. Ademais, foi responsável pela inserção de diversos grupos sociais, inclusive as classes médias e baixas (proletariado) como sujeitos históricos, não se restringindo a História apenas à narrativa tradicional pautada em acontecimentos políticos, militares e diplomáticos relacionados às ações de grandes personagens; (C) As gerações da Escola dos Annales (que teve como marco inicial a Revista Anais da História Econômica e Social fundada em 1929 por Marc Bloch e Lucien Febvre) foram responsáveis pela crítica ao determinismo e à pretensa objetividade total na ciência histórica, pela interdisciplinaridade e transversalidade entre a História e outras áreas do conhecimento, pelo trabalho com as noções de curta (acontecimento), média (conjuntura) e longa duração (sistema) do tempo e com ritmos temporais em termos de permanências e rupturas e pela introdução de diversos objetos, problemas e abordagens históricas, sobretudo a partir da 3.ª geração dos Annales ou Nova História e da ideia de que tudo é passível de ser estudado pela ciência histórica.
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