EDUCAÇÃO E INFÂNCIA

(Extraído da obra "Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada" de Carolina Maria de Jesus - Escritora negra brasileira, catadora de papéis e moradora da Favela do Canindé, em São Paulo, 1914-1977)

O dia está triste, a minha alma também. Deixei o João fechado, estudando. Disse-lhe que o homem que erra está vacinado na opinião pública. O que eu observo é que os que vivem na favela não podem esperar boa coisa do ambiente. São os adultos que contribuem para delinquir os menores.
Veio a D. Silvia reclamar contra os meus filhos. Que os meus filhos são mal educados. Mas eu não encontro defeito nas crianças. Nem nos meus nem nos dela. Sei que criança não nasce com senso. Quando falo com uma criança lhe dirijo palavras agradáveis. Sei dominar meus impulsos. Tenho apenas dois anos de grupo escolar, mas procurei formar o meu caráter.
Refleti: preciso ser tolerante com os meus filhos. Eles não têm ninguém no mundo a não ser eu. Como é pungente a condição de mulher sozinha sem um homem no lar.
Eu nada tenho que dizer de minha saudosa mãe. Ela era muito boa. Queria que eu estudasse para professora. Foram as condições da vida que lhe impossibilitou concretizar o seu sonho. Mas ela formou o meu caráter, ensinando-me a gostar dos humildes e dos fracos.
Referência:
JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. 10. ed. São Paulo: Ática, 2015.



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