CONVERSA COM SÃO FRANCISCO: "OBRIGADO POR MAIS UM ANO DE VIDA..."

(Reflexão sobre o dia 23 de abril de 2025)

Por JORGE ESCHRIQUI
Meu amigo e irmão, São Francisco, às vezes até dos piores momentos da vida nós tiramos lições importantes para as nossas vidas. Antes de três anos atrás, muitas pessoas diziam para mim que voltava mais fé na vida e na espiritualidade da minha parte.
Eu tinha a visão equivocada, São Francisco, de que fé e espiritualidade somente poderiam ser encontradas dentro de religiões e os seus templos. Porém, a dor física, a tristeza da alma, a luta intensamente diária pela saúde e, sobretudo, a descoberta de que eu precisava me apegar a algo além da Medicina - que sozinha não dava conta das minhas incertezas sobre o dia seguinte, gerando um desespero infindável - levaram-me a um encontro contigo, embora estejamos tão distantes fisicamente. Contudo, sabes daquela história, São Francisco, de que quando a gente ama verdadeiramente não há distância física e temporal capaz de nos fazer esquecer de quem realmente importa em nossas vidas? Foi o que descobri com o meu sentimento por ti, meu irmão e amigo. O meu coração abriu a porta para as tuas visitas sempre bem-vindas.
Em sua humildade, São Francisco, bateste várias vezes na porta do meu coração, desejando se hospedar nele ainda que fosse por uns instantes. Porém, em diversas ocasiões eu fui ignorante porque confundi religiões e os seus templos às vezes suntuosos com fé e espiritualidade. Hoje tenho a plena consciência, São Francisco, de que religiões são espécies de "clubes" dos quais os seres humanos por livre arbítrio decidem se inserir, seguindo dogmas, normas e preceitos, pela necessidade de socialização. Aliás, quantas vezes já ouvi de outras pessoas que há gente que vai ao culto religioso em diferentes templos para julgar a aparência física dos semelhantes? Quantas vezes já escutei pessoas pobres reclamarem que são discriminadas porque não podiam ou simplesmente não davam dízimos em quantidade considerada satisfatória para os membros de igrejas? Quantas vezes já observei pessoas sendo repreendidas porque não conseguem por várias razões irem rigorosamente todas as vezes que as suas religiões demandam aos cultos em datas determinadas?
A distância física, a minha enfermidade e o meu tratamento que me impedem de sair de onde me encontro não me fizeram, São Francisco, alguém de pouca fé. Sabe por quê? Porque os momentos difíceis que enfrento fizeram-me compreender que a verdadeira morada da fé e da espiritualidade deve ser em meu coração. Quando era pleno fisicamente, fui raras vezes em templos religiosos e isto não mudou em nada a minha fé minúscula (conforme algumas pessoas próximas me diziam e eu simplesmente não me importava) e o meu apego quase que absoluto à posição social e ao bens materiais, esquecendo-me quase completamente em me humanizar através da espiritualidade.
Todavia, não me refiro a uma espiritualidade cega movida por um fanatismo fantasiado de fé que aponta, julga, condena e sentencia os semelhantes. Não, meu amigo e irmão São Francisco, quando falo de espiritualidade faço referência à mudança de visão sobre o universo que me cerca.
Quando finalmente abri as portas do meu coração, São Francisco, para que lhe visitaste, descobri que a autêntica fé e espiritualidade são alentos para a alma (não a deixando mergulhada em lástimas sobre um passado que não tem retorno e da ausência de sentido sobre a vida terrena), afagos para o coração (que se enche de esperança por dias melhores pela frente) e compreensões sobre o sentido da existência), mostrando que às vezes o egoísmo, o narcisismo, a busca incessante de posição social e bens materiais nos cegam mentalmente para coisas que aparentemente são irrisórias, mas que se revelam fundamentais quando nós as perdemos, como por exemplo, a saúde.
Hoje, São Francisco, percebi ao deixaste entrar em meu coração que eu não preciso provar nada para ninguém. Não necessito invejar o meu semelhante porque ele alcançou certa posição ou obteve determinada coisa. Tudo tem o seu tempo certo. A minha vida é o resultado do que eu produzir com os meus atos. Se eu plantar sementes boas (paz, harmonia, altruísmo, perdão, etc.), terei colheita fartíssima e, por conseguinte, um futuro maravilhoso. E ainda que eu não me torne aquele modelo ideal de ser humano bem sucedido social e materialmente, pelo menos terei a consciência leve, pois fiz o melhor de mim.
Depois que abri as portas do meu coração para visitá-lo, São Francisco, deixo aos poucos de culpar conhecidos, a vida, Deus, o universo e até a família por meu sofrimento físico que se arrasta há três anos. Não tenho fé e espiritualidade cegas. Pelo contrário, consigo discernir claramente o bem e o mal, as injustiças e as desigualdades e o egoísmo e o altruísmo para com os seres humanos e a irmã Natureza. O que mudou foi que aumentei a crença em dias melhores para mim, a minha família, os meus conhecidos e a coletividade.
Não quero festa e presentes materiais neste aniversário. Não, meu amigo e irmão São Francisco! Nem sempre tais coisas significam ter o verdadeiro afeto daqueles que nos cercam e muito menos elas preenchem as nossas vidas. Gostaria de te pedir, São Francisco, apenas duas coisas neste meu natalício. Em primeiro lugar, acolha com afeto o Papa Francisco, que independentemente de religião, levou afago e consolo aos corações de muitas pessoas pelo mundo que muitas vezes precisavam apenas de uma palavra de carinho e apoio contra o ódio, a intolerância e a injustiça. Peça a Deus que perdoe aqueles que, em seu auge da ignorância e da desumanidade, dizem que o Papa foi para as trevas ou o inferno, ainda que não lhes tenha feito mal algum, pois no fundo não raciocinam corretamente no que estão afirmando movidos apenas pela escuridão que deixaram tomar de conta de seus corações.
Finalmente, gostaria, São Francisco, se não for muito e eu merecer, de te solicitar à intervenção para que eu tenha a minha saúde física novamente. Não gosto de me sentir um inútil - sem nada a oferecer ou deixar de legado neste mundo - e um peso para a minha família que me ajuda de todas as formas para a minha cura. Porque se nestes últimos três anos eu fui um sofredor na carne, foste, São Francisco, por outro lado, o bálsamo da minha alma e o meu intercessor nos caminhos mais espinhosos da vida mesmo quando tudo pareceu perdido.
São Francisco, não te esqueças de mim. Neste mundo ou no além, se fui e sou um pecador, também sou um sofredor, por isso peço que sejas sempre o meu amigo e defensor. Hoje, de coração, eu posso falar que tenho fé em São Francisco das Chagas lá de Canindé...



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