OS DIFERENTES TIPOS DE SABERES PRESENTES NA FORMAÇÃO DOCENTE E NO EXERCÍCIO DA PROFISSÃO DO MAGISTÉRIO
Por JORGE ESCHRIQUI
(1) Sobre os saberes escolares:
Os saberes escolares são conhecimentos a serem construídos / elaborados e que são fundamentais para a formação e atuação docente. Caracterizam-se, por exemplo, por saberes pedagógicos, técnico-pedagógicos e atitudinais, correspondendo, assim, segundo Dermeval Saviani em “Escola e democracia”, a uma exigência plural decorrente da prática pedagógica que integra saberes.
Por outro lado, os saberes escolares conectam-se à ideia de disciplinas escolares. Para Maurice Tardif em “Saberes docentes e formação profissional”, eles correspondem aos diversos campos de conhecimento, aos saberes de que dispõe a sociedade, tais como se encontram hoje integrados nas universidades sob a forma de disciplinas, no interior das faculdades e de cursos distintos. Desse modo, tratam-se de saberes profissionais já que provém de uma instituição formadora. Têm natureza e finalidade diferenciadas resultantes de suas especificidades. Por isso, destinam-se a propósitos específicos por meio de práticas orquestradas para este fim. Visam à formação de condutas nos alunos, levando em conta a formação social que se espera a longo prazo. No conjunto de um ideário de formação consubstanciam-se também na grade curricular e adquirem um sentido maior, o da formação de um educador em certo tempo e espaço histórico, na medida que incluem comportamentos, hábitos, atitudes e a necessidade de aprendizagem de certas práticas de finalidade educativa formal.
A transmissão de saberes escolares tem como pano de fundo concepções pedagógicas que se traduzem por meio de diferentes teorias que buscam explicar a maneira através da qual o sujeito apropria-se do conhecimento, tendo como preocupação central o entendimento sobre como aprendemos no processo de ensino/aprendizagem na escola. Tais concepções podem variar ao acompanharem no tempo exigências sócio históricas. Os saberes escolares são integrantes da cultura escolar na dimensão da especificidade da escola no que se refere àquilo que ela se propõe e realiza no processo formador.
(2) Saberes para conhecer:
Saberes para conhecer são os saberes disciplinares oriundos, de acordo com Maurice Tardif, de diferentes campos de conhecimento e que emergem da cultura dos grupos sociais. Neste sentido, são saberes conectados a conhecimentos que apontam para finalidades de ilustração. Os seus objetivos não são pragmáticos, embora concorram para tanto, justamente por não terem finalidades técnicas. Assim, saberes para conhecer e para saber fazer acham-se articulados.
Os saberes para conhecer são aqueles provenientes de um projeto de formação cuja matriz se assenta em saberes de formação geral e especial. São originados da política educacional para a formação de professores. Segundo Dermeval Saviani, tratam-se de saberes específicos, correspondentes a conhecimentos socialmente produzidos, que integram os currículos escolares e originados das diferentes ciências. Para este autor, estes saberes não podem ser considerados em si mesmos, mas como constitutivos do processo educativo devem ser assimilados pelos educandos.
(3) Saberes relativos:
Trata-se da compreensão das condições sócio históricas que determinam a tarefa educativa. Entende-se que os educandos devam ser preparados para integrar a vida da sociedade em que estão inseridos de modo a desempenhar nela determinados papéis de forma ativa, e, quando possível, inovadora.
Dessa maneira, espera-se que o educador saiba compreender o movimento da sociedade, identificando as suas necessidades básicas e as tendências de suas transformações de modo a detectar as necessidades presentes e futuras a serem atendidas pelo processo educativo sob sua responsabilidade. A formação do educador envolverá, pois, a exigência de compreensão do contexto com base no qual e para o qual se desenvolve o trabalho educativo. Neste sentido, ela estaria concorrendo para que o professor aprendesse um saber, como por exemplo, sobre um contexto sócio histórico de sua sociedade e educação, seus condicionamentos e determinantes.
(4) Saberes para saber fazer:
Os saberes para saber fazer correspondem à necessidade de formação de professores que possam estar, em termos de atuação, em consonância com as exigências do mundo social. Afinal, são estas exigências que tornam um sistema educacional eficiente em sua plenitude. Por isso, a instrumentalização da docência por meio da ênfase no fazer manifesta-se, do ponto de vista da formação, como um imperativo (formação em sua dimensão técnica).
No que tange à formação de caráter geral, os saberes para saber fazer referem-se àqueles que se baseiam em certas práticas que possam, a posteriori, ser desenvolvidas em sala de aula. Neles deve-se levar em consideração o princípio da motivação (a aprendizagem realiza-se melhor quando tiver para o aluno um significado vital, isto é, corresponder às suas necessidades, interesses e reais possibilidades), ou seja, não basta apenas ao professor deter o conhecimento teórico dos componentes curriculares de sua disciplina se não conseguir transmiti-lo de maneira que se possam observar os resultados imediatos da aprendizagem que remetem para a utilidade do que se aprende na escola (racionalidade e eficiência da prática pedagógica).
Os saberes para saber fazer justificam a existência de disciplinas como Metodologia, Didática e Prática de Ensino nos cursos de graduação em Pedagogia e nas diversas licenciaturas das faculdades de Educação, pois estas potencializam a atuação dos futuros docentes no exercício profissional do magistério e possibilitam uma operacionalidade eficiente da escola. Em outras palavras, os saberes para saber fazer reforçam sobremaneira o caráter instrucional da formação docente.
Sugestões de leitura:
SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. 30 ed. Campinas: Autores Associados, 1996.
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