AS CONTRIBUIÇÕES DE JEAN PIAGET PARA A COMPREENSÃO DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DOS ALUNOS AO LONGO DA EDUCAÇÃO BÁSICA

Por JORGE ESCHRIQUI

Jean Piaget foi um dos primeiros teóricos a pesquisar cientificamente como o conhecimento é formado na mente a partir de observações sobre os estágios do desenvolvimento psíquico desde recém-nascidos, que viviam em um estado de não reconhecimento de sua individualidade frente ao mundo que o cerca, até adolescentes, que já começam a desenvolver operações de raciocínio mais complexas. A partir das análises destas pesquisas, Piaget elaborou as bases de sua teoria que denominou de Epistemologia Genética.

Segundo a Epistemologia Genética, a criança reconstrói a suas ações e ideias quando se relaciona com novas experiências ambientais, ou seja, o conhecimento humano é construído na interação homem-meio ou sujeito-objeto. Entretanto, a aquisição do conhecimento depende do estágio de desenvolvimento em que se encontra a criança, ou seja, de sua maturação biológica.

O desenvolvimento humano e da aprendizagem é um processo que se dá de dentro para fora e o seu afloramento está vinculado a uma questão de tempo. Em outras palavras, os fatores internos (suporte biológico do indivíduo) preponderaria sobre os externos (relações com o meio).

De acordo com Jean Piaget, os estágios de desenvolvimento pelos quais passam a criança são: (1) estágio sensório-motor de 0 a 2 anos (representa a conquista do universo prático através da percepção e dos movimentos; (2) estágio pré-operatório de 2 a 7 anos (ocorre uma preparação e organização das operações concretas, quando a criança volta-se para a realidade e se inicia o aprendizado da linguagem); (3) estágio operatório de 7 a 12 anos (as ações são interiorizadas e se constituem operações e a criança é capaz de cooperar porque não confunde mais seu próprio ponto de vista com o dos outros); (4) estágio de operações formais a partir dos 12 anos (o indivíduo já é capaz de construir sistemas e “teorias” e o pensamento passa a ser “hipotético-dedutivo”). O processo de desenvolvimento mental que perpassa por estes estágios é lento e se dá espontaneamente a partir das potencialidades da criança e de sua interação com o meio. Contudo, é importante observar que, para Piaget, o desenvolvimento psíquico do ser humano não depende apenas das funções de conhecimento, ou seja, das responsáveis pelo conhecimento que se tem do mundo e que incluem o pensamento, mas também das funções de representação (que incluem todas as funções graças às quais se representa um significado qualquer usando um significante determinado) e afetivas (que constituem o motor do desenvolvimento cognitivo).

Conforme Jean Piaget, conhecer consiste em operar sobre o real e transformá-lo a fim de compreendê-lo, isto é, é algo que se dá a partir da ação do sujeito sobre o objeto do conhecimento. Essa relação entre sujeito e objeto ocorre por meio de um processo denominado de adaptação (mecanismo que permite ao homem não só transformar os elementos assimilados, tornando-os parte da estrutura do organismo, como possibilitar o ajuste e a acomodação deste organismo aos elementos incorporados), o qual é subdividido em dois momentos: a assimilação (as ações que o indivíduo irá tomar para poder internalizar o objeto, interpretando-o de forma a poder encaixá-lo nas suas estruturas cognitivas) e a acomodação (momento em que o sujeito altera suas estruturas cognitivas para melhor compreender o objeto que o perturba). Por meio do contínuo processo de adaptação com a assimilação e a acomodação, o indivíduo vai adaptando-se ao meio externo que culmina em um interminável processo de desenvolvimento cognitivo, ou seja, os novos níveis de conhecimento são continuamente construídos por meio das interações entre o sujeito e o meio. Trata-se de uma interação dinâmica, pois, à medida que o sujeito age sobre o objeto (conceitos, ideias e definições que são construções sociais nas estruturas dos indivíduos), ele o transforma e se transforma por meio da elaboração de relações entre aquilo que sabe e o que será aprendido.

Diante das relações estabelecidas, o sujeito passa a ser produtor, isto é, ele cria novos conceitos, novas interpretações, reorganizando o conhecimento que já possui. Em suma, é a construção e reconstrução indefinida do conhecimento através das interações entre o sujeito e o meio e, por isso, pode-se considerar Jean Piaget também o precursor do princípio básico do construtivismo.

Referência:

FARIA, Anália R. de. Desenvolvimento da criança e do adolescente segundo Piaget. 4 ed. São Paulo: Ática, 1998.