AS ESCOLAS OPERÁRIAS E AS BIBLIOTECAS POPULARES: AS EXPERIÊNCIAS EDUCACIONAIS DO MOVIMENTO OPERÁRIO SOCIALISTA NOS ANOS 1910 E 1920

Por MARIA LUISA SANTOS RIBEIRO

No final do Período Imperial e início da República, bem como durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a atividade industrial apresentou pequeno mas significativo desenvolvimento.
Com isso, foi aumentando a quantidade de trabalhadores urbanos e, mais particularmente, a de operários fabris. Este aumento se fez, em grande parte, através da chegada de trabalhadores europeus que deixaram seus países de origem em razão das péssimas condições de vida a que estavam submetidos. Alguns deles já eram operários e participavam do movimento da classe operária que se desenvolveu na Europa do século XIX em diante.
A escola para atender apenas a quem não trabalhava, portanto, para atender a uns poucos; a escola que difundia conhecimento e pouco ou quase nada de conhecimento sistematizado chegava a produzir; a escola que pelo conteúdo e método do que difundia, produzia a consolidação dos valores aceitos e difundidos pela minoria dominante; a escola onde atuavam professores que, quando exerciam o magistério mais seriamente, encaravam-no como sacerdócio, etc.; pois bem, uma escola com tais características básicas foi duramente criticada inicialmente por lideranças educadas, de um lado, pela teoria SOCIALISTA produzida pela luta dos trabalhadores europeus ocorrida durante o século XIX e, de outro, pela prática exercida nas lutas sociais do tempo do Império, no Brasil: lutas pela abolição da escravatura e pela implantação do regime republicano.
O SOCIALISMO é uma concepção teórica que expressa o entendimento do processo de substituição do capitalismo por uma organização social onde seriam destruídas as condições de exploração da maioria dos seres humanos por uma minoria.
Defensores dos ideais de "justiça, igualdade e distribuição de riqueza" no Brasil, os socialistas desde cedo compreenderam quanto o analfabetismo que imperava entre os trabalhadores era um enorme obstáculo à tarefa de divulgação dessas mesmas ideias.
Logo, juntaram-se a outras forças sociais e políticas no combate ao analfabetismo. Em termos de educação escolar, foram defensores do ensino obrigatório, gratuito, leigo e técnico-profissional. Mas não ficaram envolvidos apenas em campanhas em prol da difusão de tais princípios. Empenharam-se numa árdua luta, junto às autoridades republicanas, pela criação e manutenção das escolas públicas. Entraram, também, num confronto com a Igreja Católica, na defesa da laicidade da educação escolar e, consequentemente, no combate ao ensino religioso. E, mais do que isso, levaram a efeito a criação de ESCOLAS OPERÁRIAS e de BIBLIOTECAS POPULARES.
Para o sustento de tais atividades, os socialistas defendiam a ideia de que, em parte, os recursos deveriam ser obtidos entre os próprios trabalhadores. Mas apenas em parte, pois, diferentemente dos grupos de tendência anarquista, que também atuavam no meio dos trabalhadores urbanos, os socialistas reivindicavam e disputavam ferrenhamente com a Igreja Católica os recursos públicos destinados às atividades educacionais e assistenciais.
Nessa luta pela difusão de educação dos trabalhadores, apelaram constantemente à boa vontade de toda e qualquer pessoa instruída, a fim de que, em qualquer lugar, dentro ou fora de qualquer instituição, auxiliasse na instrução das pessoas de qualquer idade que, pela sua origem social, tivessem sido dela privadas.
Esse pedido parece que foi atendido, pois há registro da criação de "escolas operárias" em quase todos os estados brasileiros, no final do século XIX e início do XX.
Eram escolas que funcionavam bastante precária e irregularmente em razão das dificuldades que tinham que enfrentar: atendiam uma clientela heterogênea (de crianças e adolescentes, filhos de trabalhadores, a adultos trabalhadores). Para essas escolas terem início bastava que existissem interessados em ensinar, interessados em aprender e uma sala para reuni-los.
A tais dificuldades devem ser acrescentadas aquelas advindas da perseguição política que sofriam.
Do ponto de vista pedagógico, nesse quadro, poucos resultados foram alcançados. No entanto, é importante assinalar como um avanço a oportunidade de integração entre operários e trabalhadores de outras áreas com formação superior, provocada por tais iniciativas. Tantos uns como outros dirigiam e/ou lecionaram nessas escolas.
É necessário assinalar, também, que esta era a primeira vez na história brasileira que a educação esboçava-se como tarefa na formação política do trabalhador urbano na luta social pela direção de uma sociedade de novo tipo, onde os princípios de "justiça, igualdade e distribuição de riqueza" se tornassem realidade.
Referência:
RIBEIRO, Maria Luisa Santos. A luta pela ampliação das oportunidades escolares (1910-1960). In: XAVIER, Maria Elizabete Sampaio Prado; RIBEIRO, Maria Luisa Santos; NORONHA, Olinda Maria. História da educação: a escola no Brasil. São Paulo: FTD, 1994.



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