PESTALOZZI E A ESCOLA POPULAR EXTENSIVA A TODOS

Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), suíço alemão nascido em Zurique, atraiu a atenção do mundo como mestre, diretor e fundador de escolas. Suas obras principais são os romances de educação "Leonardo e Gertrudes" (1781) e "Gertrudes instrui seus filhos" (1801).

Estudioso de Rousseau e Basedow, sempre se interessou pela educação elementar, sobretudo das crianças pobres. Segundo René Hubert, "durante os oitenta anos que durou sua existência, sucessivamente diretor de escolas elementares, chefe de institutos agrícolas, de asilos de caridade, organizador de colégios clássicos ou de ensino especial e aplicado, autor de romances de educação, Pestalozzi jamais deixou de amar as crianças e trabalhar por elas. A guerra ou a má vontade dos compatriotas em vão lhe destruíam as escolas. Ele ia reconstruí-las adiante, sem jamais desesperar, e conseguia, por vezes, graças à abundância da palavra ardente e incansável, inflamar os circunstantes, sempre pronto a retomar novos caminhos, recrutando por toda parte os órfãos e os vagabundos, como um ladrão de crianças de nova espécie, esquecido de que era pobre, quando se tratava de ser caridoso, e de que era doente, quando lhe cumpria ensinar, prosseguindo, enfim, com indomável energia, seu apostolado pedagógico" (p. 259-260).

Em 1744, funda em Neuhof uma escola em que recolhe órfãos, mendigos e pequenos ladrões. Com avançada concepção, que alia formação geral e profissional, tenta reeducá-los recorrendo a trabalhos de fiação e tecelagem. A experiência dura apenas cinco anos, pois o educador não consegue mantê-la financeiramente. Em 1799, em um castelo perto de Berna, funda um internato, depois transferido para Yverdon, onde funciona de 1805 até 1825. De toda a parte estudiosos e autoridades vêm conhecer esse trabalho. A escola pestalozziana de Yverdon caracterizava-se pelo emprego de objetos manuseáveis como material didático, por ser um espaço aberto à atividade espontânea dos alunos, pela concepção liberal que tinham, do seu papel, mestres que se consideravam antes como irmãos mais velhos e como condutores que como chefes, pelo espírito experimental com o qual os professores anotavam cada dia as observações acerca do desenvolvimento psíquico dos estudantes e, sobretudo, pelo sentido social com que toda a educação era feita. Conforme Pestalozzi, a escola é uma verdadeira sociedade, na qual o senso das responsabilidades e as normas de cooperação bastam para educar a criança, sem que seja preciso, para evitar os constrangimentos nocivos ou tudo quanto a emulação comporte de perigoso, isolar o aluno no individualismo. Pestalozzi organizou uma espécie de ensino mútuo tal que os alunos se ajudavam uns aos outros em seus estudos.

Pestalozzi é considerado um dos defensores da escola popular extensiva a todos. Reconhece firmemente a função social do ensino, que não se acha restrito à formação do gentil-homem. Além disso, ao povo não se destina apenas a simples instrução, mas a formação completa, pela qual cada um é levado à plenitude do seu ser.
Como discípulo de Rousseau, está convencido da inocência e bondade humanas. Eis porque dedica de preferência esforços à educação das crianças de idade mais tenra e até das mais deserdadas dentre elas. Considera o renovar da educação como a verdadeira solução da questão social. É para tirar a gente do campo da ignorância e da miséria, que Pestalozzi sonha com uma educação que associe o trabalho manual à aquisição dos conhecimentos elementares.
Para Pestalozzi, é tarefa do docente estimular o desenvolvimento espontâneo do aluno, procurando compreender o espírito infantil, atitude que o distancia do ensino dogmático e autoritário. A psicologia proposta por Pestalozzi é ainda incipiente e ingênua, mesmo porque não tinha se constituído como ciência, mas essa tentativa indica uma direção que vai se tornar constante na Pedagogia. Admite também que a verdadeira religião não é outra coisa que a moralidade. Por isso, afasta, de propósito, o ensino dogmático, a forma precisa, literal e apenas procura despertar na alma um sentimento religioso sincero e profundo. Defende a experiência religiosa íntima e não-confessional, que diz respeito à pessoa e, portanto, não se submete a dogmas e nem a seitas.
De acordo com Pestalozzi, o homem é um todo cujas partes devem ser cultivadas: a unidade espírito-coração-mão corresponde ao importante desenvolvimento da tríplice atividade conhecer-querer-agir, por meio da qual se dá o aprimoramento da inteligência, da moral e da técnica. Daí a importância dos métodos para a organização do trabalho manual e intelectual, sendo que o último deve partir sempre da vivência intuitiva, e só depois alcançar os conceitos.
A criança tem potencialidades inatas, que serão desenvolvidas até a maturidade, tal como a semente que se transforma em árvore. Semelhante a um jardineiro, o professor não pode forçar o aluno, mas ministrar a instrução "de acordo com o grau do poder crescente da criança". Ou seja, o método para educar funda-se em um princípio simples: seguir a natureza. Daí a defesa da organização da escola em séries para que os elementos de cada arte e de cada ciência sejam apresentados à criança de acordo com a constituição do seu espírito, que evolui, conforme as leis psicológico-mecânicas, das intuições sensíveis às ideias claras (conhecimento abstrato).
Todo o ensino deve ser dado pela forma mais concreta, com livros ilustrados que associem os sons e as palavras às imagens das coisas para a linguagem, com objetos (a base da intuição especial é o quadrado) para a forma, com tabuinhas móveis que contêm letras, depois com tabuinhas, pauzinhos e pontos para número; para as frações, quadrados convenientemente divididos. Bem de começo não serão utilizados algarismos. Ademais, os conhecimentos novos devem repousar nas noções já adquiridas.
Referências:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1996.

HUBERT, René. História da Pedagogia. 3. ed. São Paulo; Brasília: Companhia Editora Nacional; Instituto Nacional do Livro, 1976.



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