GERALDO VANDRÉ E A MÚSICA "CHE" EM HOMENAGEM A ERNESTO GUEVARA NO FESTIVAL INTERNACIONAL DA MÚSICA NA BULGÁRIA EM 1968

(Fragmentos da História da Música Popular Brasileira durante o Regime Militar)

Marconi Campos da Silva, músico e compositor potiguar, compôs em 1967 uma primeira versão da música "Che" inicialmente apenas instrumental. Com medo da repressão durante o regime militar, quando perguntado sobre a temática da música, negava tratar-se de uma canção composta para homenagear o guerrilheiro e revolucionário. Afirmava que, na realidade, referia-se ao povo gaúcho. Ainda que não tivesse letra, a música foi censurada pela ditadura no mesmo ano.
Apesar da censura imposta à música de Marconi Campos, Geraldo Vandré insistia em pôr uma letra na composição instrumental. Marconi resistiu à ideia, o que seria justificável porque se vivia em um cenário político pré-Ato Institucional n.º 5 marcado pela sensação de permanente vigilância e repressão pelo Estado brasileiro.
Quando Geraldo Vandré recebeu o convite para participar do Festival Internacional da Música na Bulgária, Marconi Campos optou por compor outra melodia, ainda que mantivesse a temática de homenagem a Ernesto Guevara, como uma maneira de despistar a censura no Brasil. Caberia a Vandré a tarefa de colocar uma letra na nova versão da música "Che".
A canção "Che" de Geraldo Vandré e Marconi Campos terminou vencendo o Festival Internacional da Música na Bulgária em 1968, que fez parte de um disco compacto simples lançado a posteriori pela gravadora francesa "Vogue Disques". Eis a letra da canção:
"Che! Che!
Perdoa minha canção
Se canta só minha boca
Se tem forma de oração
Se a minha voz fica rouca
Qual arma sem munição
Se ela é franca, mas é pouca
Enquanto fica canção.
Sobe monte, desce rio
Sobe monte, desce rio
Sobe monte, desce rio
Vida e barbas por fazer
Sobe monte, desce rio
Sobe monte, desce rio
E um dia, de repente
Foi morto num amanhecer.
Na frente de todo mundo
Pra todo mundo aprender
Quem afrouxa na saída
Ou se entrega na chegada
Não perde nenhuma guerra
Mas também não ganha nada.
Sobe monte, desce rio
Sobe monte, desce rio
Sobe monte desce rio
Vida e barbas por fazer
Sobe monte, desce rio
Sobe monte, desce rio
E um dia, de repente
Fez da morte mais viver.
Quem temia teu caminho
Não podia te prender
E mesmo por traição
Pensando que te matava
No meu corpo americano
Fincou mais teu coração
No meu corpo americano
Fincou mais teu coração.
Perdoa minha canção..."

Referência:
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

LUNGARETTI, Celso. Conheçam (e baixem) uma canção raríssima do Vandré: “Che”. In: Revista Consciência (fevereiro de 2012). Disponível em: <https://revistaconsciencia.com/conhecam-e-baixem-uma.../>.

MARTINS, Franklin. Che (1968) de Marconi Campos e Geraldo Vandré (Post 10). In: Quem foi que inventou o Brasil? (Vol. 2). Disponível em: <https://www.quemfoiqueinventouobrasil.com/.../10-che...>.



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