A EDUCAÇÃO DA CRIANÇA NO IMPÉRIO ROMANO: QUINTILIANO E A PSICOLOGIA COMO RECURSO PARA O CONHECIMENTO DA INDIVIDUALIDADE DO ALUNO

Quintiliano (35 d.C. - 95 d.C.), nascido na Espanha, foi um dos mais respeitados pedagogos romanos. Durante vinte anos lecionou na escola de retórica, fundada em Roma, e que se tornou famosa, tendo sido o primeiro retor (mestre em retórica) a receber pagamento diretamente do governo do imperador Vespasiano. Quintiliano distanciou-se da filosofia, preferindo os aspectos técnicos da educação, sobretudo da formação do orador. Escreveu várias obras, com destaque para "A educação do orador".

Quintiliano valoriza a Psicologia como recurso para conhecer a individualidade do aluno. Não se prende a discussões teóricas, mas procura fazer observações técnicas e indicações práticas: "Trazido o menino para o perito na arte de ensinar, este logo perceberá sua inteligência e seu caráter. Nas crianças, a memória é o principal índice de inteligência, que se revela por duas qualidades: aprender facilmente a guardar com fidelidade. A outra qualidade é a imitação, que prognostica também a aptidão para aprender, desde que a criança reproduza o que se lhe ensina, e não apenas adquira certo aspecto, certa maneira de ser ou certos ditos ridículos. [...]. O mestre deverá perceber de que modo deverá ser tratado o espírito do aluno. Existem alguns que relaxam, se não se insistir com eles incessantemente. Outros se indignam com orden; o medo detém alguns e enerva outros; alguns não conseguem êxito senão através de um trabalho contínuo; em outros, a violência traz mais resultados. Deem-me um menino a quem o elogio excite, que ame a glória e chore, se vencido. Este deverá ser alimentado pela ambição; a este a repreensão ofenderá, a honra excitará; neste jamais recearei a preguiça" (QUINTILIANO, Apud, ROSA, 2004, p. 76-77).

Os cuidados com a criança começam na primeira infância, desde a escolha da ama. Para a iniciação às letras, Quintiliano sugere o ensino simultâneo da leitura e da escrita, criticando as formas vigentes por dificultar a aprendizagem. Recomenda alternar trabalho e recreação para que a atividade escolar seja menos árdua e mais proveitosa: "A todos, entretanto, deve-se dar primeiro um descanso, porque não há ninguém que possa suportar um trabalho contínuo; mesmo aquelas coisas privadas de sentimento e de alma, para conservar suas forças, são afrouxadas por uma espécie de repouso alternado; além do mais, o trabalho tem por princípio a vontade de aprender, a qual não pode ser imposta. [...]. Haja, todavia, uma medida para os descansos; senão, negados, criarão o ódio aos estudos e, em demasia, o hábito da ociosidade. Há, pois, para aguçar a inteligência das crianças, alguns jogos que não são inúteis desde que se rivalizem a propor, alternadamente, pequenos problemas de toda espécie" (QUINTILIANO, Apud, ROSA, 2004, p. 77-78). Considera importante que a criança aprenda em grupo, por favorecer a emulação (sentimento que incita a igualar ou superar outrem), de natureza altamente saudável e estimulante.

No ideal da formação enciclopédica, Quintiliano inclui os exercícios físicos, desde que realizados sem exagero. No estudo da gramática, busca a clareza, correção e elegância. Valoriza os clássicos, como Homero e Virgílio, reconhecendo na literatura não só o aspecto estético, mas o espiritual e o ético. Baseando-se em Aristóteles, analisa os dados físicos, psicológicos e morais que compõem a figura do orador. Destaca ainda a importância da instrução geral e dos exercícios que tornarão a aprendizagem uma segunda natureza.

A repercussão do trabalho de Quintiliano não se restringe a seu tempo, retornando com vigor na época da Renascença.
Referências:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1996.

QUINTILIANO. De institutione oratoria. In: ROSA, Maria da Glória de. A História da Educação através dos textos. São Paulo: Cultrix, 2004.



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