POETA E CAMPOSITOR CARLOS PUEBLA E A HISTÓRIA DE SUA CANÇÃO/POEMA EM HOMENAGEM A CHE GUEVARA: "HASTA SIEMPRE"

(Fragmentos da história cultural da América Latina)

(1) Quem foi Carlos Puebla na música latino-americana?
Carlos Manuel Puebla nasceu em Manzanillo, província de Granma em Cuba, no dia 11 de setembro de 1917, sendo filho de mãe dona de casa e pai mecânico que lutou na Guerra de Independência entre 1895 e 1898. Ainda adolescente, Carlos Puebla começou a trabalhar em usinas de cana de açúcar para ajudar no sustento seu e de sua família. Foi nessa fase de sua vida que aprendeu a tocar sozinho violão sem acesso a qualquer tipo de formação acadêmica.
Em 1930, Carlos Puebla compôs as suas primeiras canções que variavam entre músicas românticas e satíricas, com ritmos que iam de guarachas a boleros. No ano seguinte, realizou os seus primeiros shows em diversos bares e passou a se apresentar na Rádio CMKM de Manzanillo.
Em 1935, mudou-se para a cidade de Matanzas, onde fundou um trio, do qual também participaram Eugênio Domínguez e Francisco Baluja. Os três atuavam em cafés, restaurantes e na emissora de rádio CMGH. Em 1936, o trio viajou para Havana com o intuito de participar do Concurso "La Corte Suprema del Arte", onde obtiveram o segundo lugar. Depois passaram a atuar musicalmente em diversas localidades de Cuba como Las Villas, Camagüey, Pinar del Río, Oriente e Manzanillo. Carlos Puebla gravou as suas primeiras composições em 1940, mudando-se para Santiago de Cuba, onde fez uma temporada de apresentações no principal clube da cidade, o Clube 3000.
A partir de 1950, Carlos Puebla passou a residir em Havana. Em 1952, criou o grupo "Carlos Puebla y sus Tradicionales" que tinha integrantes tocando violões, maracas, bongós e marímbula. Inicialmente o grupo era integrado por Carlos Puebla, Santiago Martínez, Nerón Guada e Rafael Lorenzo. Posteriormente, o cantor e maraqueiro Pedro Sosa juntou-se ao grupo. Durante dez anos o grupo atuou na "Bodeguita del Medio", lugar que era frequentado por personalidades como Nicolás Guillén, Pablo Neruda, Rafael Alberti, Agustín Lara, entre outros. Nessa época, as canções românticas do grupo "Carlos Puebla y sus Tradicionales" foram gravadas em 1955 pela Gravadora Panart. As canções de Carlos Puebla também integraram a trilha sonora de filmes como Nosso homem em Havana (1958), protagonizado por Alec Guinness, e Estado de Sítio (1972), dirigido por Constantin Costa-Gavras.
Todavia, foi com o triunfo da Revolução Cubana de 1959 que Carlos Puebla transforma de uma vez suas músicas e composições. Nesse ano, o músico lançou um disco destacando a luta do povo cubano contra o imperialismo intitulado “Este es mi Pueblo”, com músicas como “Y en eso llego Fidel” que narram a liderança de Fidel Castro no movimento revolucionário. Ademais, fundou Centro da Canção Protesta onde alvoreceu o movimento conhecido como a Nova Trova Cubana, no qual surgiram vozes como Pablo Milanés, Silvio Rodríguez e Vicente Feliú, entre outros.
Em 1961, Carlos Puebla lançou um álbum intitulado "De Cuba traigo un cantar" que incluía gravações de Pablo Neruda e canções como “Todo por la Reforma Agraria” e “El son de la alfabetización” foram lançadas exaltando e defendendo a medida de distribuição de terras e a campanha de alfabetização dos primeiros anos do governo revolucionário, além de músicas que tratavam da expulsão de Cuba da Organização dos Estados Americanos – OEA e o rompimento de relações com a União Europeia, como as canções “Rompiendo las relaciones”, “Los comités de defensa”, “Yo sigo siendo cubano”, “La OEA es cosa de risa”. Os seus próximos tantos discos lançados tomariam então projeção internacional.
Nos anos 1970, Carlos Puebla compôs músicas de apoio ao presidente Salvador Allende como “Elegía a Salvador Allende”, ao povo vietnamita na guerra contra os Estados Unidos como “El ejemplo de Viet Nam” e à independência de Porto Rico como “Canto a Puerto Rico”. A partir da segunda metade da década de 1970, "Carlos Puebla y sus Tradicionales" fizeram apresentações em vários países de Europa e América Latina, inclusive em festivais e atos organizados por sindicatos e grupos de solidariedade à Cuba. Fez também diversos espetáculos às tropas cubanas em Angola.

(2) Como surgiu a canção/poema "Hasta Siempre"?
Em maio de 1967, durante o Encontro da Canção Protesta celebrada na praia cubana de Varadero, escutou-se pela primeira vez a canção/poema de Carlos Puebla intitulada "Hasta Siempre". Ele homenageou Ernesto Guevara, procurando em versos traduzir o sentimento dos cubanos em relação ao comandante guerrilheiro. "Hasta siempre" é como uma resposta à carta de despedida de Che Guevara escrita em outubro de 1965, na qual renunciou ao conforto do governo já estabelecido em Cuba em favor da incerteza da luta revolucionária internacional.
"Hasta Siempre" converteu-se depois de "Guantanamera" em uma das canções mais representativas de Cuba no mundo. Muitos artistas fizeram versões de "Hasta Siempre" como Soledad Bravo da Venezuela, Nathalie Cardone da França, Óscar Chávez do México, Robert Wyatt da Inglaterra, Enrique Bunbury da Espanha, Maria Farantoúri da Grécia entre muitos outros, completando mais de 200 versões internacionais.
Eis a letra da canção/poema "Hasta Siempre" de Carlos Puebla em sua versão original em espanhol e na tradução para o português:

HASTA SIEMPRE
Aprendimos a quererte
desde la histórica altura
donde el Sol de tu bravura
le puso cerco a la muerte.
Aquí se queda la clara,
la entrañable transparencia,
de tu querida presencia,
Comandante Che Guevara.
Tu mano gloriosa y fuerte
sobre la Historia dispara
cuando todo Santa Clara
se despierta para verte.
Aquí se queda la clara,
la entrañable transparencia,
de tu querida presencia,
Comandante Che Guevara.
Vienes quemando la brisa
con soles de primavera
para plantar la bandera
con la luz de tu sonrisa.
Aquí se queda la clara,
la entrañable transparencia,
de tu querida presencia,
Comandante Che Guevara.
Tu amor revolucionario
te conduce a nueva empresa
donde esperan la firmeza
de tu brazo libertario.
Aquí se queda la clara,
la entrañable transparencia,
de tu querida presencia,
Comandante Che Guevara.
Seguiremos adelante,
como junto a ti seguimos,
y con Fidel te decimos:
"¡Hasta siempre, Comandante!"
Aquí se queda la clara,
la entrañable transparencia,
de tu querida presencia,
Comandante Che Guevara.

ATÉ SEMPRE
Aprendemos a amar-te
desde a histórica altura
onde o sol da tua bravura
pôs fim à morte.
Aqui, permanece clara,
a cativante transparência
da tua querida presença,
Comandante Che Guevara!
A tua mão gloriosa e forte
sobre a história dispara
quando toda Santa Clara
se levanta para ver-te.
Vens queimando a brisa
com sóis de primavera
para hastear a bandeira
com a luz do teu sorriso
O teu amor revolucionário
conduz-te a uma nova terra
onde esperam a firmeza
do teu braço libertário.
Seguiremos adiante
como junto a ti seguimos
e com Fidel te dizemos:
"Até sempre, Comandante!"

* Sugestão: Clipe da música "Hasta Siempre" interpretada por Nathalie Cardone (França) sob direção de Laurent Boutonnat para a Gravadora Calliphora (1997). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=kTqwy6ay1HQ


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