EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E VIOLÊNCIA NO AMBIENTE ESCOLAR NO BRASIL
Por JORGE ESCHRIQUI
A escola é uma instituição organizada e integrada na sociedade, devendo por este motivo desempenhar um papel pró-ativo de inquestionável importância na formação, transformação e desenvolvimento do humanismo nas crianças e jovens brasileiros. Pensar a escola no Brasil atual é refletir sobre os valores éticos e morais e a realidade socioeconômica da sociedade nacional.
Indubitavelmente a relação entre escola, família e sociedade carece de melhoria, pois se observa quase que um divórcio entre elas. As escolas muitas vezes não fomentam nem facilitam o intercâmbio de experiências com outras instituições de ensino e com o meio em que estão inseridas. Ademais, não promovem a busca de soluções inovadoras e nem proporcionam uma participação efetiva de famílias na gestão escolar. De acordo com a etimologia da palavra, participação origina-se do latim "participatio" (pars + in + actio), que significa ter parte na ação. Para se ter parte na ação é necessário ter acesso ao agir e às decisões que orientam o agir. Daí a importância de que a gestão democrática da escola não seja apenas um conceito restrito ao campo teórico ou presente em documentos oficiais, mas que seja uma cultura escolar de efetiva aplicação no dia-a-dia das instituições de ensino. Só se pode falar em gestão democrática de ensino quando todos os agentes históricos diretamente envolvidos na educação (gestores, docentes, familiares, discentes e comunidade) tomem parte efetivamente nas decisões de interesse coletivo da escola. Afinal, a participação é um modo de ação de permite o diálogo e a resolução favorável de tensões entre os individual e a coletividade, a pessoa e o grupo.
A participação deve ser encarada como um processo permanente de estabelecimento de um equilíbrio dinâmico entre a autoridade delegada à escola, as competências profissionais dos professores (enquanto especialistas do ensino), os demais trabalhadores da educação, os alunos enquanto sujeitos ativos no processo de ensino-aprendizagem de conteúdos, habilidades, competências e valores e as famílias que são os principais responsáveis pela educação de seus filhos. Se a família está incumbida, juntamente com a escola, da formação de um mesmo cidadão, constituindo-se ambas em peças fundamentais no processo educativo, por que não incluir pais e/ou responsáveis na elaboração do projeto pedagógico da escola e em sua gestão?
Antes de chegarem à escola, as crianças já são seres viventes num núcleo familiar e comunitário, onde recebem orientação moral, vivenciam experiências e adquirem conhecimentos práticos. Portanto, as instituições de ensino não recebem alunos como uma tela em branco. Isto explica o motivo pelo qual é primordial a integração entre escola, família e sociedade, pois todas elas contribuem ao longo da existência da criança e do jovem para o estabelecimento de uma educação moral, crítica e comprometida com o meio. A escola vem reforçar os valores recebidos em casa, além de transmitir conhecimentos, agindo também na formação humana, devendo salientar a autonomia, o equilíbrio, a liberdade, os limites e o respeito mútuo entre os indivíduos. É um equívoco desvincular a família e a comunidade do processo educativo que continua no ambiente escolar.
A aproximação entre família, sociedade e escola só tem a contribuir para o desenvolvimento do educando. Assim, a escola passa a ser um espaço que se relaciona com a vida e não uma ilha isolada da sociedade. Com a participação da família no meio escolar, cria-se espaços de escuta, voz e acesso às informações que dizem respeito aos seus filhos. É importante salientar que o aprendizado formal depende não apenas de uma escola com adequada estrutura física, de professores adequadamente formados e permanentemente capacitados e bons programas curriculares, mas também de como o educando é tratado e na sociedade e em casa e dos estímulos que recebe para aprender. Afinal, aprender é um processo contínuo que não se restringe somente ao ambiente escolar.
Qualquer gesto, palavra ou ação positiva de qualquer membro da sociedade ou da família pode motivar a criança e o jovem. Porém, o contrário, isto é, qualquer palavra ou ação de conotação negativa pode gerar um bloqueio no aprendizado e um sentimento de revolta contra a família e a coletividade. Como qualquer ser humano, a criança e o jovem precisam de limites e compreender que não podem fazer tudo o que quiserem, mas tais limites devem ser dados de maneira clara, sem o uso de nenhum tipo de violência.
Uma pessoa agredida com palavras ou ações, além de aprender a odiar, ser intolerante e agredir, perde a sua humanidade e motivação para aprender, uma vez que os seus sentimentos em relação a si mesma e aos outros ficam confusos, tornando-a insegura no que diz respeito às suas capacidades de conviver coletivamente, respeitar as diferenças e sentir-se amado e amar aos seus semelhantes também.
O conhecimento e o aprendizado não são adquiridos somente nos bancos escolares, mas também são construídos pelo contato com o social dentro da família e no mundo ao redor da criança e do jovem. Faz-se necessário conceber a educação a partir de uma perspectiva ampla, estendendo-a para além da educação escolar, uma vez que a crise de valores éticos e morais que afeta a sociedade atual influencia diretamente no trabalho pedagógico. Tal crise reflete-se na escola, levando especialistas na área educacional a pensarem sobre a formação do caráter do educando. Nunca na escola se discutiu tanto assuntos como falta de limites, desrespeito na sala de aula e desinteresse pela aprendizagem pelos alunos. Nunca se observou tantos professores cansados, doentes física e mentalmente e violentados várias vezes. Nunca os sentimentos de impotência e frustação estiveram tão marcantemente presentes na vida escolar.
Há discussões que buscam compreender este quadro, mas geralmente ficam restritas aos especialistas em educação, aos grupos de professores, às direções e às coordenações. Falta um debate sério e aprofundado sobre este tema e o envolvimento direto na busca de soluções para o problema também por parte das famílias, da imprensa, do Poder Público e outros setores sociais. Impossível solucionar-se o problema da violência escolar enquanto as instituições de ensino assumirem a maior parte da responsabilidade pelas situações de conflito que nelas estão presentes cotidianamente.
A escola, sendo a principal instituição de transmissão e aquisição de conhecimentos, valores, habilidades e competências legados pela humanidade ao longo da história, deve ser considerada um bem importante para qualquer sociedade. Afinal, a escola é a instituição social que tem o encargo de contribuir para a educação, segundo planos sistemáticos, das crianças e dos jovens nas diferentes faixas etárias de sua formação. Além disso, somente há efetivamente uma sociedade quando se observa a presença de indivíduos que vivem num determinado lugar e ligados por um ideal e objetivo: o bem comum. Quando a busca do bem comum e da convivência social harmônica é substituída pela intolerância, pelo ódio e pela violência, constata-se uma sociedade em processo degenerativo ou em estado de anomia.
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