TEMPO DE OPRESSÃO
(Poesia para reflexão crítica sobre o Cristianismo em tempos de arroubo do pensamento político autoritário de extrema direita e do fundamentalismo religioso no Brasil)
Por RAÏSSA MARITAIN (Rostov on Don-Rússia, 1883 - Paris-França, 1960. Poeta e filósofa)
Tempos de ódio,
tempos de dor,
de dor motivada pelo ódio.
tempos de morte
e de esperança sem rumo.
Agonia de corpos e almas,
promessas de paz não cumpridas,
a miséria solta,
desenfreada,
pela própria miséria,
miséria que não poderá mais ser socorrida,
até a morte,
até a morte, até que se esgote todo o ódio,
a religião do ódio,
a ciência do ódio,
o poder do ódio,
até o suicídio da terra,
quando Deus só encontrar mortos para julgar...
Tempos nossos de sangue e de morte,
de torturas e de desespero,
de caos e de miséria,
de fome e de angústia,
de descobertas malditas.
Tempo do irremediável,
que afoga todo coração
que a crueldade ainda não devorou.
Deus,
Só Deus, na sua misericórdia,
pode receber o nosso grito,
não aquela fé árida e traída por aparências,
mas a fé que seja reflexo da nossa realidade.
Referência:
MARITAIN, Raïssa. Tempo de opressão. In: BARRÉ, Jean-Luc. Jacques and Raissa Maritain: Beggars For Heaven. Trad. Bernard E. Doering (English). Paris: University of Notre Dame Press, 2005, p. 152-153.
