ASPECTOS GERAIS SOBRE O EMPREGO DO LIVRO DIDÁTICO E O CONCEITO DE TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Por JORGE ESCHRIQUI
A afirmação de que o livro didático seria um produto da indústria cultural prestes a ser aposentado fundamenta-se, principalmente, na argumentação de que este recurso didático seria utilizado como uma espécie de "muleta" pedagógica por parte de professores mal formados para a escolha de conteúdos, conceitos, competências e habilidades a serem trabalhados em sala. Ademais, nesta mesma linha de raciocínio, faltaria a esses docentes uma reflexão sobre a forma como são organizados e abordados teórica e metodologicamente os assuntos por um obra didática. Dessa maneira, ao invés de se constituir em um dos possíveis recursos a serem empregados em um processo de aprendizagem reflexiva dos conteúdos por parte dos discentes, o livro didático acaba por se tornar um instrumento de memorização de informações em um processo de ensino tradicional no qual o aluno é tratado como um agente passivo durante a aprendizagem, ou seja, mero receptáculo de conteúdos sem reflexão crítica e desconectados de sua realidade.
Contudo, é importante observar que mesmo um livro didático questionável no que se refere à abordagem teórica e pedagógica dos conteúdos de uma disciplina, sobretudo, nas disciplinas da área de Ciências Humanas, pode ser um importante recurso no processo de ensino e aprendizagem. Em primeiro lugar, o professor pode utilizá-lo como um documento para uma reflexão crítica por parte dos discentes sobre os textos e as imagens nele contidos, levando-os à percepção que a narrativa e a análise elaboradas pelo autor não são apenas o resultado de uma ciência que tem as suas teorias e metodologias próprias para a interpretação dos conteúdos, mas que também são influenciadas pelas visões de mundo e experiências pessoais daquele que produz e difunde o conhecimento.
Em segundo lugar, o professor precisa separar a visão da disciplina que o autor de um livro didático pretende expor e propagar da liberdade de apropriação de que dispõem ele e os alunos enquanto leitores dessa obra. Em outras palavras, cabe ao professor aceitar passivamente os pontos de vista e a análise dos conceitos, fatos e explicações contidos no livro ou trabalhar reflexiva e criticamente os conteúdos, as informações e as interpretações presentes nele.
Finalmente, o livro didático no Brasil é produzido, em geral, na região Sudeste, sobretudo no eixo Rio-São Paulo, e diante da impossibilidade de abordar todas as particularidades regionais existentes no país, compete ao professor adaptar os conhecimentos nele presentes à realidade do lugar onde a escola na qual ministra as suas aulas está localizada. Desse modo, o docente traz os conteúdos o mais próximo possível do cotidiano dos discentes. A este processo pedagógico dá-se o nome de transposição didática, isto é, trata-se da capacidade de dar sentido aos conhecimentos científicos ensinados e aprendidos nas disciplinas escolares para o aluno, aproximando-os de sua realidade e demonstrando a funcionalidade deles para além de sua vida escolar.
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