EDUCAÇÃO INCLUSIVA E ENSINO SIGNIFICATIVO

Por Jorge Eschriqui
Em uma escola inclusiva, todos os membros da comunidade escolar estão regidos pelo princípio da igualdade. Todavia, é inquestionável que cada indivíduo tem a sua própria história pessoal influenciada pelo ambiente familiar, social, econômico, emocional e por suas condições orgânicas. Nesse sentido, no caso específico do corpo discente, a biografia de cada aluno deve ser minimamente conhecida para ser mais valorizada e, assim, obter-se deste um melhor aproveitamento.
Uma escola somente poderá ser considerada inclusiva quando estiver organizada para favorecer a cada aluno, independentemente de etnia, sexo, idade, deficiência, condição social ou qualquer outra situação. Um ensino significativo na escola inclusiva é resultado de uma prática pedagógica que garante o acesso ao conjunto sistematizado de conhecimentos como recursos a serem mobilizados.
Construir uma escola inclusiva demanda acreditar que pode fé, vontade e perseverança em um ensino de qualidade. Contudo, isto não implica em se desconsiderar que ainda é necessário se avançar muito para a constituição de instituições de ensino marcadas pelo respeito e pela valorização à diversidade, uma vez que há na sociedade brasileira uma distância considerável entre o real - com valores, crenças, hábitos e atitudes ainda bastante permeados de preconceitos de todo tipo - e o ideal do altruísmo e da convivência harmoniosa com a pluralidade. O sistema educacional do país ainda há de errar muitas vezes neste intuito e fracassar, mas é preciso que educadores, gestores escolares e administradores públicos tenham coragem para assumir os erros cometidos na implantação de uma política pública nacional de educação inclusiva e elaborar novas diretrizes, estratégias e metas para alcançar sucesso futuramente. A luta para se obter uma escola inclusiva de verdade é grande, afinal, de nada adianta colocar uma criança especial dentro de uma classe comum, se a deixarem segregada, exclusa, vegetando em sala de aula. A pessoa com deficiência tem que se sentir valorizada, importante, inteligente, capaz igual aos demais estudantes.
Os professores do ensino regular estão preparados para lidar com estudantes com algum tipo de deficiência? Diante das falhas observadas na formação e capacitação para o magistério, pensar-se em mesclar estudantes ditos "normais" com outros com algum tipo de deficiência não é utopia? Dizer que ser professor é fácil ou que ensinar diariamente crianças e jovens totalmente diversos e com necessidades especiais é tranquilo significaria uma falácia para todos aqueles profissionais que já enfrentaram ou enfrentam a realidade do chão da escola, sobretudo, pública, neste país. Todavia, o que não se pode é deixar que o abatimento diante das dificuldades impeçam a busca de ajuda por parte do docente e o Estado tenha consciência de seu dever de fornecer atendimento educacional especial nos casos em que as condições orgânicas do estudante com deficiência o exigirem. A escola inclusiva é aquela instituição que garante a qualidade de ensino a cada um de seus alunos, reconhecendo e respeitando a diversidade e respondendo a cada um de acordo com as suas potencialidades e necessidades.
O sucesso de toda escola só acontece quando há a participação e a integração de todos os envolvidos no processo educacional: docentes, direção, coordenação, pais, alunos, políticos e a sociedade em geral. Para nortear os trabalhos com educação inclusiva, faz-se necessário ter objetivos bem claros, políticas públicas definidas e acessíveis, projeto político-pedagógico que condiz com a realidade e metodologia de ensino com fundamentação teórica relacionada com a prática. Ademais, o processo de avaliação deve também ser repensado ao se lidar com crianças e jovens com deficiências, pois não se pode julgar todos a partir de critérios e parâmetros que não levam em consideração os talentos, as habilidades e as capacidades de cada indivíduo. Trabalhá-los e desenvolvê-los é mais importante do que um simples número que muitas vezes restringe, bitola e constrange uma pessoa. A escola que pretende ser inclusiva deve adotar um planejamento estratégico para gradativamente implementar as adequações necessárias para garantir o acesso de alunos com deficiência à aprendizagem e ao conhecimento. É fundamental também para a constituição de escolas inclusivas que os Estados e os Municípios elaborem, seguindo as orientações e as diretrizes gerais presentes no Plano Nacional de Educação (PNE), os seus planos municipais e estaduais de educação, pois sem planejamento é praticamente impossível o estabelecimento de prioridades e necessidades reais destes entes da federação e das instituições de ensino.
A pedagogia adotada na escola inclusiva deve ser a pedagogia da formação integral (desenvolvimentos físico, emocional e cognitivo) das crianças e dos jovens como um todo, o que demanda uma reflexão crítica pela instituição de ensino sobre a cultura escolar, a didática e o projeto pedagógico e as possíveis implicações destes aspectos sobre práticas de respeito e valorização da diversidade. É importante se observar que ao se falar em diversidade no ambiente escolar, não se está falando em tratar as crianças e os jovens como melhores ou piores na comparação de uns com os outros pela constatação da presença ou não de algum tipo de deficiência por parte de alguns estudantes, mas sim da necessidade da instituição conhecer o público com o qual trabalha para que possa realmente ofertar um ensino de qualidade, que atinja a todos, sem ser excludente. Também não quer dizer que se almeja a uniformidade dos alunos, ou seja, que não se considere as particularidades de cada indivíduo. Afinal, a diversidade implica na conscientização de que cada ser humano é uno, merece ser tratado como um alguém especial, realmente único como é. A diversidade em uma escola inclusiva objetiva a conscientização por parte de toda a comunidade escolar de que é fundamental a inclusão de todos, uma vez que a instituição de ensino deve constituir-se em um importante espaço de socialização de crenças, valores, hábitos e atitudes voltados para o convívio harmonioso e respeitoso com a pluralidade étnica, religiosa, política, socioeconômica, etc., algo tão essencial para a nova civilização que emerge com a Era da Globalização do século XXI (em um mundo cada vez mais integrado pela constituição de grandes blocos políticos e econômicos e com distâncias reduzidas pelo desenvolvimento dos meios de transporte e das novas tecnologias da informação e comunicação) e em falta nos dias atuais na sociedade brasileira, diante de cenas diárias de radicalismos, discriminações e violações dos direitos humanos.



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