ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES DAS TEORIAS DA PSICOLOGIA DO DESENVOLIMENTO HUMANO PARA O TRABALHO PEDAGÓGICO
Esquema textual por JORGE ESCHRIQUI
(1) JEAN PIAGET:
A partir da Epistemologia Genética (teoria do conhecimento centrada no desenvolvimento natural da criança, segundo a qual o pensamento infantil passa por quatro estágios, desde o nascimento até o início da adolescência, quando a capacidade plena de raciocínio é atingida), Piaget impactou a Pedagogia ao demonstrar que o educador não pode fazer uma criança aprender o que ela ainda não tem condições de absorver. Por outro lado, ainda que ela apresente essas condições, não vai se interessar a não ser por conteúdos que lhe façam falta em termos cognitivos porque o conhecimento se dá por meio de descobertas que a própria criança faz. Daí a origem da corrente construtivista da Pedagogia que, em termos gerais, propõe que o aprendizado é construído pelo próprio estudante, ou seja, o professor deve estimular ao longo do processo de ensino a procura do conhecimento por parte do discente. O trabalho de educar crianças não consiste apenas em transmitir conteúdos, mas também em favorecer a atividade mental do aluno.
De acordo com Piaget, há quatro estágios básicos de desenvolvimento cognitivo: (1) sensório motor, 0 a 2 anos (as crianças adquirem a capacidade de administrar seus reflexos básicos para que gerem ações prazerosas ou vantajosas; período anterior à linguagem, no qual o bebê desenvolve a percepção de si mesmo e dos objetos a sua volta); (2) pré-operacional, 2 a 7 anos (surgimento da capacidade de dominar a linguagem e representar o mundo por meio de símbolos; a criança continua egocêntrica e ainda não é capaz de se colocar no lugar de outra pessoa); (3) operações concretas, 7 a 11 ou 12 anos (aquisição da noção de reversibilidade das ações; aparecimento da lógica nos processos mentais e da habilidade de discriminar os objetos por similaridades e diferenças); e (4) operações formais, a partir dos 12 anos (domínio do pensamento lógico e dedutivo e habilitação para a experimentação mental, ou seja, capacidade de relacionar conceitos abstratos e raciocinar sobre hipóteses). Esse aspecto da teoria do cientista suíço explica o motivo pelo qual algumas escolas da Educação Infantil planejam e desenvolvem os seus trabalhos pedagógicos de acordo com os estágios do desenvolvimento cognitivo.
(2) LEV VYGOTSKY:
A principal contribuição de Vygotsky para a Pedagogia foi a sua ideia do papel relevante das relações sociais no processo de desenvolvimento intelectual do indivíduo, dando origem à corrente socioconstrutivista ou sociointeracionista. Para o psicólogo bielo-russo, o homem é um ser que se forma em contato com a sociedade, o que explica o papel importante da instituição escolar na formação do conhecimento. A intervenção pedagógica provoca avanços no desenvolvimento cognitivo do indivíduo que não ocorreriam espontaneamente. Todo aprendizado é necessariamente mediado, o que torna a função do ensino e do professor ativo e determinante para a vida do aluno. Afinal, o primeiro contato da criança com novas atividades, habilidades ou informações deve ter a participação de um adulto. Ao internalizar um procedimento, a criança apropria-se dele, tornando-o voluntário e independente.
As funções psicológicas superiores, que diferenciam os humanos dos outros animais, só se formam e se desenvolvem pelo aprendizado mediado pelo convívio social. Daí a importância da escola enquanto um espaço social de socialização e não apenas para o ensino e a aprendizagem de conteúdos. Entre as funções complexas que a instituição de ensino pode ajudar a desenvolver nas novas gerações estão a consciência e o discernimento. Toda criança apresenta condições biológicas para desenvolver competências, habilidades, valores e atitudes, mas só os desenvolverá se for estimulada a aprender com os indivíduos mais velhos capazes de transmiti-los enquanto uma herança cultural de uma determinada sociedade.
Um dos principais conceitos de Vygotsky para a Pedagogia é o de zona de desenvolvimento proximal, que seria a distância entre o desenvolvimento real de uma criança e aquilo que ela tem o potencial de aprender (potencial que é demonstrado pela capacidade de desenvolver uma competência com a ajuda de um adulto). Em outras palavras, a zona de desenvolvimento proximal é o caminho entre o que a criança consegue e o que pode vir em breve lapso de tempo a conseguir fazer sozinha. Cabe ao docente ter a habilidade para identificar o desenvolvimento real e o desenvolvimento potencial presente em cada estudante e trabalhar o percurso deste entre ambos. Um bom ensino é aquele capaz de proporcionar ao discente atingir um nível de competência e habilidade referente ao domínio dos conteúdos anteriormente não apresentado. Portanto, o processo de ensino e aprendizagem deve ampliar o universo mental do estudante, não se resumindo à memorização de conteúdos. Pelo contrário, deve ser pautado na aquisição de saberes e conhecimentos que desenvolvam as estruturas cognitivas do indivíduo, levando-se em consideração sempre a sua capacidade de aprendizagem a cada fase de sua vida.
(3) HENRI WALLON:
Para Wallon, as crianças só podem descobrir o reconhecer o seu “eu” quando estão em convívio social com outras pessoas. Esse convívio as proporcionará conhecer as dependências, as negações, as manipulações, etc. Portanto, a escola, enquanto importante agente de socialização, não deve restringir o processo de ensino e aprendizagem apenas à transmissão de conteúdos, mas ensinar o estudante a pensar criticamente. Isso demanda uma prática pedagógica por parte dos educadores que incentive a autonomia, propiciando situações de aprendizagem nas quais os estudantes que despertem a reflexão, a imaginação e a busca permanente pelo saber.
A educação atual deve estar focada na formação integral do aluno, como propõe o cientista francês. Em outras palavras, a escola deve enxergar a criança enquanto um ser humano por inteiro, que necessita de ter um desenvolvimento não somente cognitivo, mas também afetivo e motor. A importância da afetividade deve-se ao fato de que só através das emoções as pessoas podem se comunicar consigo mesmas e com o meio em que vivem. No que diz respeito à motricidade, a sua ênfase no trabalho pedagógico deve-se a que, ao expressar sentimentos e emoções, as crianças se movem. Desse modo, o movimento torna-se um importante instrumento de aprendizado, uma vez que a motricidade (gesticulação com as mãos, por exemplo, e não apenas o uso da linguagem falada e escrita) proporciona em determinada fase da vida a socialização e comunicação da criança com outras pessoas.
Outra contribuição de Wallon para a Pedagogia refere-se à atenção que os educadores devem ter quanto aos fatores extraclasse que afetam diretamente o processo de ensino e aprendizagem e o rendimento dos estudantes, uma vez que o desenvolvimento decorre de esforços da criança para superar conflitos e crises decorrentes tanto de sua origem em diferentes fontes de conhecimento como de suas condições pessoais (mudanças no corpo em decorrência do crescimento físico e das transformações hormonais) e sociais. Durante o processo de desenvolvimento humano, os indivíduos precisam de momentos de crise para adquirir conhecimentos e isso somente é viável por meio de uma leitura do mundo. Nesse sentido, cabe à escola criar situações educativas que propiciem direcionar esses períodos de crise. Como? Ensinando o respeito à diversidade, por exemplo. As referências positivas são fundamentais para a criação de vínculos afetivos da criança com os professores, os colegas e demais membros da comunidade escolar. Quando ela aprende a se comunicar com os demais, a se colocar no lugar de seu semelhante e a compreender as individualidades, os sentimentos e as necessidades específicas de cada pessoa, torna-se um indivíduo mais ético e moralmente preparado para ocupar o seu espaço na sociedade.
(4) DAVID AUSUBEL:
A principal contribuição da teoria de Ausubel para a Pedagogia é o conceito de aprendizagem significativa. Para o psicólogo estadunidense, essa aprendizagem somente ocorre no âmbito escolar quando o conteúdo a ser ensinado faz algum sentido para a vida do educando e há o estímulo ao aluno para que ele seja sujeito ativo no processo de construção do seu conhecimento. Isso demanda que o educador trabalhe cada conteúdo em sala de aula levando em consideração a realidade vivida e a estrutura cognitiva do estudante, isto é, relacionando os novos conhecimentos com as ideias já existentes em sua estrutura mental e, consequentemente, proporcionando o aprendizado por meio do estabelecimento de relações entre o que é ensinado em sala de aula e o que foi aprendido no cotidiano.
Na aprendizagem significativa, o professor deve exercer o papel de mediador entre o discente e o conteúdo a ser aprendido, criando condições de aprendizagem para que haja disposição do estudante em adquirir os novos conhecimentos. Ademais, é importante também que os materiais didáticos propiciem um entendimento dos conceitos e das proposições abordados no conteúdo e, de posse deles, possam os alunos aplicá-los na compreensão e intervenção na realidade. Finalmente, é relevante também a revisão da forma de avaliação tradicional, superando-se o modelo baseado em perguntas e respostas idênticas aos textos ou exercícios elaborados pelo professor ou material didático, sem averiguar se houve a internalização a contento e não memorização provisória (ato de decorar para passar) do conteúdo ministrado.
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