PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO E APRENDIZAGEM NO AMBIENTE ESCOLAR
Por JORGE ESCHRIQUI
As instituições de ensino brasileiras ainda apresentam uma cultura escolar impregnada por atitudes e valores impregnados de perspectivas equivocadas sobre a Psicologia do Desenvolvimento Humano que refletem negativamente sobre as práticas pedagógicas elaboradas pelos docentes e, consequentemente, o rendimento dos estudantes. Ainda é bastante comum se observar nos dias atuais visões deterministas e preconceituosas por parte dos diversos grupos que compõem a comunidade escolar (pais ou responsáveis, gestores e professores) que procuram elencar diversos motivos ou fatores para a explicação ou a justificativa do fracasso ou sucesso nos estudos de crianças e jovens. Várias dessas visões trazem em seu cerne elementos das concepções inatista e ambientalista do desenvolvimento humano que exercem influências diretas sobre o pensar e o agir no cotidiano escolar, impedindo-se, assim, práticas didáticas de uma educação inclusiva que garanta o direito fundamental de todos os indivíduos indistintamente a um ensino de qualidade.
A partir da influência da Teologia e de uma compreensão errônea sobre o conhecimento biológico, a concepção inatista parte de pressupostos como que o homem já nasce pronto, programado a apresentar os comportamentos ao longo de sua vida, as experiências vivenciadas pelo indivíduo pouco influenciam em seu desenvolvimento, as aprendizagens são movidas por fatores internos e o papel do ensino é tentar interferir o mínimo possível no processo do desenvolvimento espontâneo da pessoa. Tal concepção pode ser observada no dia a dia dos estudantes quando pais ou responsáveis inconscientemente, sobretudo por falta de maior esclarecimento nas regiões mais distantes do interior do país, justificam a evasão escolar de crianças e jovens com o argumento de que a pessoa é burra mesmo, logo é melhor retirá-la logo da escola e colocá-la para trabalhar ainda cedo. É notada também quando gestores escolares condenam a indisciplina de determinados alunos, desistindo da recuperação e inserção social deles com um discurso do tipo “pau que nasce, morre morto, portanto, não dá para endireitar”. Ou ainda quando professores acreditam que discentes que apresentam deficiência mental sejam incapazes de ter um aprendizado e rendimento similar a outros considerados “normais”.
Por outro lado, a cultura escolar está carregada também de preconceitos característicos de vários aspectos da concepção ambientalista do desenvolvimento humano, tais como tudo é aprendido, o organismo, a maturação biológica e fatores genéticos não influenciam em nada o comportamento humano, a experiência sensorial é a fonte do conhecimento e novas aprendizagens são possíveis por meio da manipulação dos estímulos que antecedem e sucedem o comportamento. A concepção ambientalista pode ser notada quando pais ou responsáveis utilizam-se de agressões físicas e verbais para criar um comportamento favorável ao estudo pelas crianças ou professores abusam do uso de instrumentos disciplinares como advertências escritas, convocação de pais ou responsáveis na direção, diminuição da nota ou ameaças de suspenção para obter a disciplina necessária por parte dos estudantes e ministrar um determinado conteúdo em sala de aula. Trata-se de práticas que visam moldar o comportamento das crianças e dos jovens por meio da consequência negativa que uma dada conduta pode ocasionar ao indivíduo em decorrência de uma punição.
Quando um aluno apresenta dificuldades de aprendizagem, é imprescindível que o professor olhe para ele não como um indivíduo que apresenta um problema psicológico, mas procure conhecer a sua história, contextualizando-o a partir de uma realidade sociocultural. A cultura escolar de exclusão e pré-julgamento sobre o desenvolvimento humano dos alunos pode ser modificada com a colaboração dos docentes a partir do momento em que estes se proponham a refletir a sua prática pedagógica cotidiana. Nesse sentido, o educador deve estar consciente de que, em suas relações com os estudantes, está lidando com seres humanos que têm a sua formação constituída tanto pelo desenvolvimento de aspectos cognitivos quanto pelo aprimoramento dos elementos psicológicos, afetivos e emocionais. Afinal, todo ser humano é razão e emoção e do adequado equilíbrio entre ambas as partes se consegue prepará-lo no ambiente escolar para que futuramente exerça os papéis almejados pela sociedade enquanto um adulto, pai ou mãe de família e cidadão ou cidadã crítico e consciente de seus direitos e deveres e atuante na transformação da realidade.
O professor precisa também ter a clareza de que o rendimento e o comportamento escolar são influenciados pela situação psicológica do aluno. Embora seja notório que tenha que lidar cotidianamente com várias classes e centenas de estudantes em uma ou várias escolas, o docente deve aproximar-se e conhecer minimamente cada discente e ter em mente um perfil comportamental e de rendimento dele para que possa identificar com a ajuda de conhecimentos mínimos de Psicologia certas mudanças repentinas nesse perfil. Ao identificar esse fato – embora não esteja algumas vezes relacionado à vida escolar e sim ao convívio familiar ou social além dos limites físicos da escola –, o educador deve tentar uma aproximação e ouvir o estudante, respeitando a sua privacidade e a sua vontade ou não de revelar o que sente, ou comentar com discrição e ética profissional a situação com o mediador de conflitos, orientador educacional, psicólogo, coordenador ou diretor (a pessoa que o professor ache que pode tomar uma atitude que não seja traumática e prejudique ainda mais a situação psicológica do aluno) para que possa definir as causas e encontrar possíveis soluções para o problema emocional que afeta o rendimento e a relação social do discente na instituição de ensino.
Referência:
DAVIS, Claudia; OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Psicologia na Educação. São Paulo: Cortez, 2008.
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