A AÇÃO DOCENTE NO BRASIL CONTEMPORÂNEO: PARA UMA REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE A ÉTICA PROFISSIONAL DO PROFESSOR A PARTIR DO FILME "O CLUBE DO IMPERADOR"
Por JORGE ESCHRIQUI
O filme "O Clube do Imperador" se passa em uma escola norte-americana de classe alta. Nela o professor Hundert, amante da Filosofia e História Antiga, procura despertar em seus alunos a prática da reflexão sobre si (consciência de si) e da atenção sobre o mundo (consciência do outro) como forma de se desvincular de um processo de ensino e aprendizagem que compreende o discente apenas como um depósito de conteúdos (educação bancária conforme Paulo Freire), ou seja, um sujeito passivo do conhecimento. Nesse sentido, ao adotar as ideias socráticas de valorização do espírito crítico, o professor Hundert busca superar no filme a mera reprodução do conhecimento.
É importante lembrar que percorrendo praças e ruas de Atenas, na Grécia Antiga, Sócrates perguntava aos atenienses quais eram os valores nos quais acreditavam e que respeitavam ao agir. Para isso, o filósofo grego adotava a prática da busca da compreensão da realidade por meio de certos princípios estabelecidos pela razão, cujo objetivo era alcançar uma adequação entre o pensamento e a realidade ou entre explicação e aquilo que se procura explicar (consciência racional). No início das aulas do professor Hundert, os alunos demonstram boa receptividade aos conteúdos abordados. Contudo, um aluno chamado Sedgewick Bell, filho de senador, e que por sua posição social, exerce uma influência sobre os demais colegas de sala, não demonstra interesse por uma aprendizado efetivo, colocando a sua esperteza acima da honestidade e da ética defendidas durante as explicações dos conteúdos das aulas pelo professor.
Para despertar o interesse e a atenção de Sedgewick Bell e dos demais alunos para o estudo da história da cultura greco-romana como fator facilitador da aprendizagem dos conteúdos, o professor Hundert cria um campeonato na escola no qual os três melhores estudantes receberão a coroa de louros como na Roma Imperial (daí a razão do filme se chamar "O Clube do Imperador"). Entretanto, contradizendo o seu discurso em sala de aula, o docente acaba rompendo com a ética profissional ao alterar os resultados dos exames para que Sedgewick Bell possa participar do concurso. Justamente o professor Hundert que tem a sua atuação em sala de aula pautada pela preocupação com a formação de alunos que saibam se conduzir diante de situações que envolvam questões éticas, muitos dos quais começam a enxergar naquele um referencial ou modelo de ser humano ético a ser seguido.
Baseado na máxima maquiavélica de que "os fins justificam os meios", o docente acredita que, fraudando os exames a favor de Bell para que possa participar do concurso, pode estimular no aluno o interesse maior pelos estudos. Contudo, contrariando-o, Bell acaba por usar de meios ilícitos e amorais para copiar as respostas das questões. Descobrindo a farsa, o professor Hundert não denuncia o aluno, mas lança uma pergunta impossível de ser respondida. Bell acaba perdendo o campeonato. Dessa maneira, o cotidiano escolar serve de aprendizado não somente para o estudante, mas também para o docente, demonstrando a este os efeitos negativos do rompimento da ética profissional, uma vez que a formação do professor de educação básica não ocorre apenas no ambiente acadêmico das universidades e faculdades, mas ao longo de toda a carreira a partir do exercício diário do magistério. Cada clientela e contexto escolar têm as suas particularidades e demandas que exigem do professor a descoberta e o uso de saberes docentes e práticas pedagógicas específicos a cada um daqueles.
Com o decorrer dos anos, Hundert perde o cargo de diretor da escola e Sedgewick deseja repetir o campeonato em sua cidade. Para isso, convida o professor e seus ex-colegas. Porém, no decorrer do novo campeonato, Hundert descobre novamente que o ex-aluno continua a usar a má-fé, pois o evento seria apenas uma forma de se fazer o anúncio deste como candidato ao senado no lugar de seu pai. O professor e o ex-aluno acabam discutindo e o filho de Bell assiste a tudo e vira as costas para o pai. Então, Hundert revela ao ex-aluno que ele foi desclassificado tanto no presente quanto no passado, pedindo-o perdão. Como prova de seu perdão, Sedgewick termina matriculando o seu filho para estudar também com o professor Hundert. Este filme revela-se um importante recurso didático a ser utilizado nas salas de aula das faculdades para a compreensão da importância do exercício ético do magistério pelos futuros docentes quanto das escolas para a formação humanística no campo da ética dos alunos da Educação Básica que leve a uma reflexão que discuta, problematize e interprete o significado dos valores morais nas ações cotidianas.
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