DESENVOLVIMENTO COGNITIVO, RELAÇÕES INTERPESSOAIS E AFETO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

     Por JORGE ESCHRIQUI
     No ambiente escolar, os alunos e os professores não são somente sujeitos do processo de ensino e aprendizagem, mas também atores sociais imersos em uma cultura e com histórias particulares de vida. O docente tem diante de si na sala de aula indivíduos que trazem consigo os seus componentes histórico, cultural, afetivo, linguístico, entre outros.

    Se o processo de ensino e aprendizagem ocorre em um espaço de socialização, no qual há a transmissão de conhecimentos, hábitos, atitudes e valores compartilhados pela coletividade e resultantes de séculos de produção cultural da civilização ocidental, por outro lado, não se deve perder de vista a diversidade existente entre os seres humanos como consequência de um processo de desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor específico explicado pelas peculiaridades físicas, da formação e da trajetória de vida de cada um. Portanto, a forma como o professor trabalha didaticamente os diversos conteúdos curriculares está diretamente relacionada com essa trama de constituição complexa de cada aluno enquanto indivíduo peculiar.

    O público estudantil que frequenta as escolas é constituído por crianças e jovens cujos pais ou responsáveis geralmente dispõem de pouquíssimo tempo para passar com os seus dependentes em decorrência da necessidade do trabalho fora de casa para sustentar a família. Tal fenômeno é observado no Brasil a partir da década de 1950, quando houve a intensificação do processo histórico da migração e urbanização. Isso trouxe consequências negativas como a perda de valores e identidades tradicionais e a desestruturação familiar motivada pelas más condições de vida e pela violência nas periferias dos centros urbanos. As novas gerações resultantes desse processo são a clientela com a qual os professores da educação básica se deparam frequentemente nas escolas.

    Trata-se de crianças e jovens que muitas vezes têm no convívio escolar o seu único meio de socialização e que veem nos colegas e funcionários da instituição de ensino, sobretudo nos professores, as referências e as pessoas com as quais realmente podem compartilhar os seus sentimentos, angústias, medos, etc. Daí a necessidade de que a relação entre educador e educando seja pautada não apenas pela aprendizagem de conteúdos, mas também pela afetividade como um recurso para a criação de uma identidade e relação de respeito e confiança mútua entre ambos. Isso proporcionará não somente uma maior disciplina em sala de aula, como também estimulará o interesse dos alunos pelo aprendizado dos conteúdos, facilitando-se, assim, o trabalho pedagógico desenvolvido pelo professor.

     É fundamental que o educador tenha uma visão holística do educando, enquanto um ser humano que necessita de uma formação que propicie o desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor. O sistema educacional brasileiro precisa superar um modelo tradicional de ensino no qual há a massificação de alunos, a padronização dos conteúdos, as práticas pedagógicas baseadas na mera transmissão de informações (transformando-se os alunos em sujeitos passivos ou tábula rasa no processo de ensino de aprendizagem) e o distanciamento e a carência de afetividade na relação entre o docente e o discente decorrente da relação hierárquica algumas vezes de caráter autoritário (o professor posicionando-se na frente da sala de aula e os alunos dispostos em fileiras, cabendo-os apenas ouvir passiva e disciplinarmente a figura do detentor exclusivo do saber).



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