RATOS E URUBUS, LARGUEM MINHA FANTASIA!: O POLÊMICO E HISTÓRICO DESFILE DA ESCOLA DE SAMBA BEIJA-FLOR EM 1989 NA MARQUÊS DE SAPUCAÍ - RIO DE JANEIRO
(Reflexão: Será que o Carnaval pode ser uma manifestação cultural popular com a presença de consciência social e política sobre o Brasil?)
Por JOÃOZINHO TRINTA (São Luís, Maranhão, 1933 - São Luís, Maranhão, 2011. Artista plástico e um dos maiores carnavalescos do Brasil)
Este enredo é um protesto.
Protesto a esta grande maldade que estão fazendo com nossa terra, com nossa gente, com nosso BRASIL. Maldade desequilibrarem totalmente este país que tem, na sua geografia, a forma de um grande coração. Invertido desequilibrado, de cabeça para baixo, mostrará os contornos de um enorme bunda. E uma bunda do tamanho do Brasil tem muita sujeira nos seus intestinos para ser expelida. Somente as águas das Bacias do Amazonas e do Prata poderão lavar tantos excrementos. Ou, então, a grande energia do nosso povo quando ele tiver consciência de sua força e de seu valor.
Por enquanto somos, ainda, o gigante que acordou e está levando tanta porrada e está sendo tão sacaneado que, de repente, fica inerte. É preciso, pelo menos, alfinetá-lo para que comece a ter reações. É obrigação de todos nós participar deste trabalho. Cada um deve agir à sua maneira. No nosso caso nós sabemos fazer Carnaval. É nosso oficio. Que seja através dele, então, que a gente proteste. Esperamos, assim, contribuir para o despertar do gigante que somos nós mesmos. Então lançamos o grito: "RATOS E URUBUS LARGUEM MINHA FANTASIA".
A ideia deste enredo não surgiu como inspiração. Ele foi provocado pela percepção da enorme quantidade de sujeira, de lixo que nos cerca e nos está sufocando. É o lixo físico, mental e espiritual deste país. É o lixo da falta de amor, da honestidade e do respeito à vida. Tremendas falhas que vem provocando o aumento do grande povo de rua abandonado, escorraçado e esquecido. Quantidade enorme de mendigos, famintos, desocupados, loucos, pivetes, meretrizes, travestis povoam os espaços do Brasil. É a falta de empregos, de orientação e tantas outras carências.
Por outro lado existe um luxo causador de tantas calamidades. É o luxo de gastarem milhões de dólares com armamentos, politicagem, igrejas, negociatas e tantas outras falcatruas.
Vamos tentar mostrar, na sua crueza, este povo abandonado da rua e mostrar o lixo que os envolve. Vamos tentar, também, mostrar por outro lado, o luxo que servirá de contraste. Será o LIXO DO LUXO. Um momento de sublimação para o mendigo brasileiro. Este miserável povo de rua será exposto desde o começo do desfile, 14 mendigos, liderados pelo próprio AMIR HADAD, virão abrindo o desfile da Escola. Apesar de não terem razão para tanto, eles serão gentis e comunicativos com todos.
Para os Juízes eles vão oferecer até um trago de cachaça. Como bons mendigos eles podem estender as mãos pedindo, por caridade, uma notinha de dez que, hoje, vale tão pouco, mas para eles vale muito. Suas indumentárias serão de gala. Isto mesmo. Mendigo também é vaidoso e gosta da opulência. Por não terem casa eles carregam todos os seus pertences. Ao contrário do que se pensa, são cheios de roupas, sacos, filhos, animais e tudo que lhes interessa. Às vezes carregam todas as coisas em carrinhos. Os espaços também lhes pertencem. Eles andam, ficam e dormem nos lugares que escolhem. O mundo é deles.
Colocados numa Comissão de Frente eles terão que treinar muito para serem comportados e fazerem tudo certinho. Mas, os Juízes irão, tranquilamente, entender que julgar mendigos é fácil. Mendigo é Mendigo. Eles carregam as misérias do mundo inteiro. Por isso, alguns acabam ficando sábios como Aqueles do Oriente chamados de Budas de Compaixão: podemos garantir que o mendigo brasileiro é, hoje, um arquétipo da pobreza universal. Seus rostos são impessoais.
O carro de abertura vem mostrando o acúmulo desta miséria expresso no lixo físico e humano em torno da enorme e significativa figura de um CRISTO MENDIGO. Isto é a própria imagem do Rio de Janeiro e do Brasil. Uma multidão de pedintes, famintos, pivetes, meretrizes, bêbados, loucos, entidades de rua é representada pelos grupos TÁ NA RUA, RAÍZES DA LIBERDADE, FEITIÇO E MAGIA e SENZALA. Estes últimos grupos já rodeiam o segundo carro, que representa uma enorme lixeira ao lado de um paredão onde está escrito o seguinte convite: ATENÇÃO: Mendigos, desocupados, pivetes, meretrizes, loucos, esfomeados e povo de rua. Tirem dos Lixos os restos de Luxos! Façam suas fantasias! Venham participar de um GRANDE BAILE DE MÁSCARAS! A MARQUÊS DE SAPUCAÍ Ê VOSSA!
Este convite ouriça todo o povo de rua. Restos de carnavais, de brilhos, cores e formas começam a ser procurados nas lixeiras. Todos querem se aprontar para a festa. Na procura desses materiais eles gritam: Ratos e Urubus, larguem minha fantasia!
De repente, aquela massa disforme de tantos corpos se transforma, na realidade de uma imaginação. Os 15 da Comissão se transmudam em Guardiões do Rei e da Rainha dos Mendigos. Estes dois personagens surgem no seu Palácio Real! É a lixeira e todo o lixo sublimados na explosão do ouro sobre azul! As mendigas se transformam em Cortesãs. Os urubus em pássaros negros, e os ratinhos em pajens. É uma CORTE MEDIEVAL! E mendigo sabe o que é uma corte medieval? Eles podem não saber. Mas, nós sabemos que a miséria e a opulência medieval marcaram a história, como o PERÍODO DAS TREVAS.
Comparando a miséria medieval com a miséria Nacional. A nossa ultrapassa a outra, de longe, em gênero e número. Além de ser geograficamente menor, a Europa naquela época estava em formação. Eram pequenos feudos com um mínimo de população. A miséria brasileira, ao contrário, se espalha num vasto território entre milhões e milhões de pessoas. O contraste com a riqueza é maior. Na Idade Média somente alguns Senhores Feudais eram opulentos e tinham que lutar para defender seus castelos.
No Brasil, o número de ricaços é muito grande. Muita riqueza foi adquirida com esforço e trabalho honesto. Mas, a maior parte é ilícita, desonesta e até maldita porque está levando este país para o caos. Para um outro Período das Trevas. O miserável da Rua pode não ter consciência da história, mas ele está repetindo a História. Ele é o mesmo ser humano degradado pelo Poder. Grande parte da miséria brasileira que está nos morros, nas baixadas, nos alagados, já ultrapassou de longe, a miséria medieval. Esta, ficou, realmente na Média. A nossa já é total, universal. Por isso, o mendigo, ao receber o convite para brincar na Sapucaí, extrapola a imaginação. Na atração dos opostos ele quer ser logo SENHOR OU REI de alguma coisa. E cria uma corte que imaginamos seja Medieval. O certo seria ficar no meio procurando o equilíbrio: o eterno triângulo. E, como os jograis, ensinando entre cantos e danças o jogo do diabolo. Este é o símbolo da Carreta que vem no meio deste Setor. O desfile desta Corte termina com um Carro Alegórico trazendo destaques e restos de fantasias que representam o LIXO DO LUXO!
E VEM O LIXO DAS IGREJAS! E os pedintes das portas de todas: Católicas, Protestantes, Umbandistas, Igrejas Eletrônicas, enfim todo tipo de exploração espiritual. Falamos dos aspectos negativos. Os pedintes vão se fantasiar com os restos do luxo de todas elas.
Mitras, rendas, ricos bordados enfim. Toda a riqueza adquirida com a fé e a promessa da salvação das almas. Mas, neste momento, tudo serve para compor uma fantasia. Os pedintes das Igrejas querem também brincar no "BAILE DE MÁSCARAS". Mesmo que seus trajes pareçam que ele está numa PROCISSÃO DE MENDIGOS.
E, LOUCOS, eles chegam. Mais enlouquecidos ainda com o convite para o Desfile na Sapucaí! São os próprios loucos. Milhões por todo este Brasil. Resultado de tanto desequilíbrio, tanta fome, tanta miséria. Os loucos se apresentarão nas suas fantasias de Neros, Peruas, Profetas, Napoleões e Guerreiros do Apocalipse. Estão representando a loucura de tanta gente que já dirigiu e ainda dirige o mundo. Representam os que produzem os morticínios, as guerras. Os que ganham dinheiro com o sangue humano derramado. Fabricantes e mantenedores de situações obscuras na terra, no mar, e no ar. Sobre todos começa o atropelo dos 4 Cavaleiros do Apocalipse. O cavalo Branco é a Carestia. O vermelho é a Guerra. O amarelo é a Peste e o Negro o Justiciamento. Os rangidos e gemidos de dores provocados por estilhaços e arames farpados são amenizados pelas figuras dos profetas envolvidos de luzes e flores brancas, "EM VERDADE EM VERDADE VOS DIGO...".
E no enroscar dos Corpos vem o LIXO DO SEXO. As meretrizes, embevecidas, nem acreditaram quando souberam do Convite: "A MARQUÊS DE SAPUCAI" É VOSSA..." Saíram da Lapa e correram para a Rua Alice. Foram procurar velhos "pegnoirs", coloridos, perucas, espartilhos e calcinhas pretas bordadas. Estão sempre acompanhadas dos Zés Pilintras que cercam seus passos. Como libélulas voaram para além do tempo. Chegaram ao Império das Cortesãs, das Bacantes, das Prostituições, dos Sadismos, das Inversões e Perversões Sexuais. Nome: SAUNA ROMANA. Endereço: qualquer lugar do BRASIL.
A Beija-Flor saúda a Imprensa escrita, falada e televisada. Saúda o Povo e pede passagem. Mas a notícia também vira lixo. E, pelas ruas, perambulam os apanhadores de papel. Com os pedaços de jornais, revistas e letras eles elaboram suas fantasias para virem brincar no "BAL MASQUE", Colombinas, Arlequins e Pierrots. A Comédia dell Arte, em preto, branco e laranja. Encerrando este setor um Carro Alegórico com Gôndolas, ratos, pierrots, televisões, pierretes, máquinas, colombinas, rádios e máscaras. É o Universo da Comunicação na Folia do Carnaval!
Para próximo setor os mendigos se vestiram de Verde e Amarelo. E todo o mundo já sabe que vem o LIXO DA POLÍTICA. A política do Futebol - Os ratos de Cartola. A política Financeira, o Dólar é o Rei e o Cruzado é o capacho por onde sua Majestade pisa. No meio de tantas negociatas, os pequenos ladrões vão parecer um bando de anjinhos. E toda esta grande brincadeira é assistida por uma enorme plateia: O Brasil inteiro. É uma grande revista do Teatro antigo. É O OBA-OBA DO PLANALTO. Todos pagam para assisti-la.
O palco mostra as grandes vedetes fantasiadas de diferentes Carmens Mirandas. Cada cabeça mostra um turbante diferente. Enfeitados com canetas que assinam decretos e pacotes. Vassourinhas coloridas, cuias de chimarrão, faixas de múmias e outras excentricidades. Tudo verde e amarelo. Neste lixo de tanto luxo os ratos completam a festa. De tantos decretos, leis e pacotes eles fizeram picadinhos que jogam, para euforia geral, pelos buracos abertos no cenário.
E, lá vêm eles, OS PIVETES. Estão em todas as partes. Nem precisa convidá-los que eles já se fazem presentes. São os pequenos EXÜS a quem não foi oferecido o ritual de alimentação, sua primeira exigência. Não obedecido este assentamento eles disparam em qualquer direção para fazerem cobranças. Abrem caminhos com armas nas esqueléticas mãos. Embora estejam tontos do cheiro da cola, seus golpes de lâminas ou tiros de armas são certeiros. São as crianças que estão matando manipulados por adultos.
É a tristeza total desta situação que obriga a mostrar o LIXO em que transformaram tanta alegria expressa nos brinquedos. No meio de ingênuos trenzinhos, tambores, sobressaem, hoje, brinquedos violentos, armas. Como restos ainda sobram imagens de palhacinhos, espantalhos, odaliscas, bruxas e bate-bolas. É a força do mundo mágico das crianças.
Nas primeiras horas da manhã a FEIRA vende o que tem de melhor para os que ainda podem pagar. O resto é a XEPA. E, quem nem pode pagar a XEPA, come mesmo é o LIXO DA XEPA. Estes famintos leram também o CONVITE. Todos cataram restos de legumes, frutas e flores para compor sua fantasia. Nesta euforia, os famintos viram, de repente, uma abóbora apodrecida ser puxada por ratos. E para surpresa geral esta abóbora foi se transformando numa Carruagem. Era a fada Madrinha, com a sua varinha de condão realizando o sonho da Cinderela: um Baile no Palácio Real. E todos foram juntos. No alto da escadaria um belo príncipe recebe os convidados.
Muitas senhoras realizaram o desejo do ano inteiro; vestir a bela fantasia de Baiana. Mesmo que o pano da costa seja de Chitão. Um pouco de brilho e tudo vira festa. O que tem mais valia é a alegria de dançar e cantar mostrando a energia que o tempo acumulou. Sejam benditas, para sempre, queridas BAIANAS.
Todo o BAL MASQUE que se preza tem muita bebida e farta comida. Isto não poderia faltar aqui: Até um convite foi feito: Temos a honra de convidar V.Sa., e Exma. Família para participarem do grandioso "BANQUETE DOS MENDIGOS". Todos os mendigos que receberam este convite particular compareceram vestindo seus melhores trajes a rigor. As mendigas capricharam nos vestidos longos e nos chapeuzinhos. E ninguém esqueceu de trazer um saco plástico para carregar um pouco das sobras. Mas o êxito deste agapê só foi possível com a contribuição, muito generosa, de várias pessoas, riquíssimas de nossa alta sociedade. Gratuitamente elas ofereceram suas latas de lixos para que fossem retirados os restos de seus últimos banquetes.
Magníficas sobras de comidas, bebidas e sobremesas: Restos de caviar, faisões, perus, peixes, lagostas, cascatas de camarões, queijos finíssimos, vinhos, whiskys, vodkas, champanhes, licores, tudo, tudo absolutamente importado. Neste MAGNÍFICO BANQUETE DOS MENDIGOS, foi impossível afastar os ratos e urubus. Eles esperam o final para devorarem restos dos restos. Mas, todo mundo está satisfeito. Também, com tanta sobra! É só olhar a mordomia dos camarotes da Marquês de Sapucaí.
LEBA-LARO Ô Ô Ô / EBO-LEBARÁ - LAIÁ - LAIÁ - Ô
Isto é uma saudação às ENTIDADES DE RUA.
E elas chegam de VERMELHO E PRETO, espalhando suas energias. Bom dia para quem é de bom dia, boa noite para quem é de boa noite, porque agora todos são da folia: LEBA- LARO Ô Ô Ô / EBO - LEBARÁ - LAIÁ - LAIÁ - Ô.
E chega o FINAL
Em todos os chafarizes da Cidade Maravilhosa os Mendigos se banham. Lavam suas roupas e seus andranjos. Lavam suas almas que são puras. Lavam as sujeiras da cidade que carregam na poeira do corpo. Nas águas dos chafarizes os mendigos e principalmente as crianças deixam uma Mensagem: BREVE - Faltam apenas 11 anos! No ano 2.000!
Quando se ouvir o SILÊNCIO DAS ESFERAS, O BRANCO CHAFARIZ DO AQUÁRIO vai começar a jorrar suas águas azuis sobre as crianças do mundo inteiro. Neste ato de purificação elas estarão de mãos dadas, na grande bandeja do centro. Numa só voz elas cantarão uma nova estrofe na Ciranda da Vida. É o CANTO DO III MILÊNIO! Muitos não ouvirão este cantar! Antes, outras águas vão rolar! Como estas que vão ajudar os garis a limpar a pista por onde a BEIJA-FLOR vai passar derramando na Avenida frutos de uma imaginação!
***RATOS E URUBUS, LARGUEM A MINHA FANTASIA***
Letra: Betinho / Glyvaldo / Osmar / Zé Maria
Samba-Enredo 1989 - Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia
G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis (RJ)
Leba laro, ô, ô, ô
Ebo lebará, laiá, laiá, ô
Leba laro, ô, ô, ô
Ebo lebará, laiá, laiá, ô.
Reluziu, é ouro ou lata
Formou a grande confusão
Qual areia na farofa
É o luxo e a pobreza
No meu mundo de ilusão.
Xepa, de lá pra cá xepei
Sou na vida um mendigo
Da folia, eu sou rei
Xepa, de lá pra cá xepei
Sou na vida um mendigo
Da folia, eu sou rei.
Sai do lixo a nobreza
Euforia que consome
Se ficar, o rato pega
Se cair, urubu come.
Vibra meu povo
Embala o corpo
A loucura é geral
Larguem minha fantasia, que agonia
Deixem-me mostrar meu carnaval.
Firme, belo perfil
Alegria e manifestação
Eis a Beija-Flor tão linda
Derramando na avenida
Frutos de uma imaginação.
Leba laro, ô, ô, ô
Ebo lebará, laiá, laiá, ô
Leba laro, ô, ô, ô
Ebo lebará, laiá, laiá, ô.
Reluziu, é ouro ou lata
Formou a grande confusão
Qual areia na farofa
É o luxo e a pobreza
No meu mundo de ilusão.
Xepa, de lá pra cá xepei
Sou na vida um mendigo
Da folia, eu sou rei
Xepa, de lá pra cá xepei
Sou na vida um mendigo
Da folia, eu sou rei.
Sai do lixo a nobreza
Euforia que consome
Se ficar, o rato pega
Se cair, urubu come.
Vibra meu povo
Embala o corpo
A loucura é geral
Larguem minha fantasia, que agonia
Deixem-me mostrar meu carnaval.
Firme, belo perfil
Alegria e manifestação
Eis a Beija-Flor tão linda
Derramando na avenida
Frutos de uma imaginação.
Leba laro, ô, ô, ô
Ebo lebará, laiá, laiá, ô
Leba laro, ô, ô, ô
Ebo lebará, laiá, laiá, ô.
Reluziu, é ouro ou lata
Formou a grande confusão
Qual areia na farofa
É o luxo e a pobreza
No meu mundo de ilusão.
Xepa, de lá pra cá xepei
Sou na vida um mendigo
Da folia, eu sou rei
Xepa, de lá pra cá xepei
Sou na vida um mendigo
Da folia, eu sou rei.