O PLANEJAMENTO, A AVALIAÇÃO E A NECESSIDADE DE UMA REVOLUÇÃO CULTURAL NOS PARADIGMAS E NAS PRÁTICAS EDUCACIONAIS

Por JORGE ESCHRIQUI
A construção de um futuro melhor do que o presente nos diversos campos da existência humana (social, político, econômico, cultural, científico, ético, etc.) depende de que os gestores públicos, os educadores, as famílias e a sociedade em geral estejam atentos não apenas aos meios educativos, mas também aos fins da Educação. Como podemos depreender do texto de Roger Garaudy em “O projeto Esperança”, a função primordial da Educação já não pode ser apenas adaptar a criança ou o jovem a uma ordem existente, fazendo com que assimile os conhecimentos e o saber destinados a inseri-la em tal ordem, como gerações anteriores procederam. Ao contrário, é necessário ajudar a criança ou o jovem a viver num mundo caracterizado por transformações – sobretudo na área de comunicação e tecnologia – sem precedentes históricos, tornando-os, assim, capazes de criarem o futuro e de inventar possibilidades inéditas. Não convém esquecer que os sistemas escolares atuais – com ênfase no brasileiro – não correspondem em absoluto à necessidade anteriormente referida. Aliás, tal problema pode ser remetido a outros momentos históricos, como por exemplo, as experiências de 1968, quando houve manifestações de contestação por estudantes em várias partes do mundo ocidental. Já não basta uma simples reforma do ensino imposta de cima para baixo desde os legisladores e os gestores públicos para uma transformação da realidade de crianças e jovens por meio da educação. É fundamental uma revolução cultural nas formas de se pensar e conceber a Educação enquanto uma política de Estado. Tal política deve levar em consideração o debate, a participação e o apoio efetivo de diversos setores da sociedade para que leis e iniciativas que visam à melhoria da qualidade do ensino saiam do plano teórico e se transformem em realidade. Dessa maneira, influenciará efetivamente e terá reflexos positivos e reais no cotidiano escolar, sobretudo, no chão das salas de aula pelo mundo e Brasil afora.
Contudo, as equipes gestoras das escolas e os docentes têm também parcela importante na revolução cultural que deve ocorrer na educação. Um passo a ser dado inicialmente neste sentido será trabalhar com planejamentos direcionados e aplicáveis, contextualizados na realidade da comunidade local na qual a instituição escolar se insere, tendo como objetivos a aquisição e a consolidação do saber pelos estudantes. Em outras palavras, a reflexão sobre os paradigmas e as práticas educacionais atuais e os desafios impostos à educação brasileira passa necessariamente pelo ato de planejar. O planejamento não pode ser apenas mais um documento institucional a ser preenchido e arquivado, mas deve ser uma ferramenta educacional a ser estruturada, avaliada e reavaliada para se refletir criticamente sobre os rumos e o tipo de educação que deseja para a formação das crianças e dos jovens brasileiros.
Nesse processo de planejamento, não se pode deixar de ressaltar a importância do ato avaliativo permanente. A avaliação atravessa o ato de planejar e de executar e, por isso, contribui em todo o percurso da ação educacional. A avaliação não se faz presente só na identificação da perspectiva político-social, mas também na seleção de meios alternativos e na execução do projeto político-pedagógico de uma escola e do trabalho didático dos professores nas diversas disciplinas em sala de aula, tendo em vista a sua construção. Enquanto crítica de percurso, a avaliação é uma ferramenta necessária ao ser humano no processo de construção dos resultados que planificou produzir, assim como o é no redimensionamento da direção da ação. A avaliação é uma ferramenta da qual o ser humano não se livra. Ela faz parte de seu modo de agir e, por isso, é necessário que seja usada da melhor forma possível.
É um desafio superar os modelos de planejamento extremamente técnicos e sem direcionamento e objetivos educacionais efetivos. Cipriano Carlos Luckesi busca contribuir para tal tarefa, indicando aos professores os elementos fundamentais e diretivos para um planejamento executável:
(1) Objetivos: devem ser elaborados conforme a proposta de cada disciplina, tendo como base a utilização dos critérios finais dos quais resultam as respostas de aprendizagem esperada. Os objetivos são redigidos iniciando-se com o verbo no infinitivo, que explicita a operação de pensamento que se pretende desenvolver (exemplo: analisar criticamente, aplicar, compreender, criar, etc.) e o conteúdo específico da disciplina;
(2) Objetivos gerais: são aqueles mais amplos e complexos, que poderão ser alcançados ao final do ano letivo, incluindo o crescimento esperado na aprendizagem;
(3) Objetivos específicos: referem-se a aspectos mais simples, mais concretos, alcançáveis em menor tempo, como por exemplo, aqueles que surgem ao final de uma aula ou de um conteúdo, e, em geral, explicam desempenhos observáveis. Características: realismo, viabilidade, especificidade, perspectiva com relação ao futuro;
(4) Conteúdos programáticos: trata-se de um conjunto de temas ou assuntos que são estudados em cada disciplina. Tais assuntos são selecionados e organizados a partir da definição dos objetivos;
(5) Metodologia: a metodologia deve ser apresentada com muita clareza, evidenciando a forma como o conhecimento será trabalhado. Deve indicar os movimentos didático-pedagógicos que estarão presentes no desenvolvimento das atividades. Esse componente do plano exige a especificação de como o professor irá valorizar o conhecimento prévio dos alunos, articulando o novo conhecimento com a realidade e analisando-o em relação ao conhecimento anterior do aluno. É importante selecionar as estratégias adequadas para os objetivos propostos;
(6) Avaliação: além das formas e do instrumento de avaliação, é necessário especificar os critérios que serão utilizados, os quais devem estar totalmente relacionados com a finalidade da atividade, com os objetivos e com os critérios estabelecidos previamente sobre a construção do conhecimento. Níveis de complexidade: (re)conhecimento, compreensão, aplicação, análise, síntese, julgamento (avaliação).
Referências Bibliográficas:
LUCKESI, Cipriano Carlos. Planejamento e avaliação na escola: articulação e necessária determinação ideológica. [online]. Disponível em: https://docplayer.com.br/21011276-Cipriano-carlos-luckesi...

GARAUDY, Roger. O projeto esperança. Rio de Janeiro: Salamandra, 1978.



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