O JOGO DE “EMPURRA-EMPURRA” DO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO
Por JORGE ESCHRIQUI
Toda mazela do atual sistema educacional brasileiro não pode e nem deve ser atribuída somente a um dos agentes diretamente envolvidos com a educação nacional: professores, alunos, pais ou responsáveis, gestores escolares, comunidade local ou Poder Público. Todos têm a sua parcela de culpa no fracasso permanente da educação brasileira, devendo-se isso em boa medida a certo comodismo diante da precarização da escola pública, explicado por uma cultura política existente na sociedade de incompreensão da responsabilidade de cada setor social ou indivíduo enquanto cidadão e agente de transformação histórica capaz de promover mudanças significativas no cotidiano escolar, nas redes de ensino e no sistema educacional do país como um todo.
Distanciando-se das responsabilidades inerentes aos processos educativos, professores, alunos, pais ou responsáveis, gestores escolares, comunidade local e administradores públicos demonstram conhecer o real significado do exercício da cidadania além do voto, negando-se a reconhecer o papel de cada agente para a transformação radical que a educação brasileira demanda, e iniciam um enorme jogo de “empurra-empurra”. A comunidade culpa a escola por ensimesmar e não ser um espaço de convivência social capaz de integrar os residentes locais e conseguir o apoio deles em várias ações educativas. As famílias ou os responsáveis incumbem à instituição de ensino de toda educação e profissionalização de seus filhos ou dependentes e atribui-a toda culpa pelo fracasso da aprendizagem. Os alunos esperam fórmulas mágicas que os levem ao sucesso, criticam a escola por ser um ambiente pouco ou nada atrativo e os professores pela desmotivação no processo de ensino. Os professores e os gestores escolares culpam o Poder Público pelo fracasso escolar, uma vez que este investe pouco em educação e reproduz um sistema de ensino frágil o suficiente para naufragar num mar de expectativas trazidas pelos estudantes e por suas famílias às instituições. Finalmente, os administradores públicos (escolhidos pelo voto direto pela população nacional) demonstram ou fingem desconhecimento da realidade da educação nacional (talvez numa tentativa de angariar massas de manobras políticas para permanecerem no poder) ao apontar supostos fantasmas ideológicos ou inimigos “antipatrióticos” (representados pelas figuras de vários professores e gestores escolares) como sendo os responsáveis pela falência das redes de ensino e pelas mazelas do sistema educacional do país, uma vez que estes estariam apenas preocupados em impregnar as mentes dos discentes de ideologias “subversivas” ou “exógenas” incompatíveis com o processo de ensino-aprendizagem dos conteúdos fundamentais dos currículos.
As consequências desses posicionamentos são percebidas na reprodução do processo histórico de fracasso da educação básica brasileira: índices assustadores de evasão, enorme percentual de reprovação, escola desacreditada, alunos despreparados, professores criticados e desvalorizados. Em suma, um sistema de ensino totalmente fragilizado pela incompetência na efetivação da aprendizagem.
O país demanda urgentemente que a educação básica seja não uma política de um ou de outro governo, mas sim uma política de Estado. Ao se pensar e se planejar a educação, é preciso ter em mente que os seus resultados finais só se concretizarão depois de percorrido longo tempo de sua primeira iniciativa. Portanto, em vez de se perder ainda mais tempo com discussões ideológicas ou processo de “caça às bruxas” nas redes de ensino e ambientes escolares, seria mais interessante um amplo debate nacional sobre iniciativas que sejam efetivas para a transformação da triste realidade histórica do sistema educacional brasileiro.
Referências:
ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Avaliação escolar: além da meritocracia e do fracasso. Cadernos de Pesquisas, São Paulo, n. 99, p. 16-20, nov. 1996.
_______. Estudo de caso em pesquisa e avaliação educacional. 3. ed. São Paulo: Autores Associados, 2008, v. 13.