AVALIAÇÃO E COMPETÊNCIA: AVALIAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS OU COMPETÊNCIAS EM AVALIAÇÃO?

Por JORGE ESCHRIQUI
Avaliação e competência são dois termos que trazem uma multiplicidade de significados e provocam diferentes interpretações.
Em seus primórdios, a avaliação era chamada de Docimologia, expressão criada por Henri Pierón, na década de 1920, e que significava o estudo das notas atribuídas nos exames. As questões mais comuns nessa época eram: Quais os fatores que interferem na atribuição de uma nota? Quais as condições que um instrumento deve ter para permitir resultados mais precisos? Nessa perspectiva, a avaliação surgiu com a criação de sistemas de testagem, sendo um dos primeiros o sistema desenvolvido por Horace Mann, no século XIX, com o objetivo de substituir os exames orais pelos exames escritos, utilizar poucas questões gerais em vez de um número maior de questões específicas, e buscar padrões mais racionais do alcance escolar. A avaliação, sobretudo nos EUA, era tão associada à ideia de exame que foram criados associações e comitês para o desenvolvimento de testes padronizados. Nas primeiras décadas do século XX, a maior parte da atividade que era caracterizada como avaliação educacional formal estava associada à aplicação de testes, o que imprimia um caráter exclusivamente instrumental ao processo avaliativo.
Nos anos 1930, a avaliação tinha como foco os exames e sua função era identificar os erros e acertos, justificando-os com base nas condições que interferiam nos desempenhos dos examinados. Entre os anos 1930 e 1960, sob a influência de Tyler e Bloom, a avaliação propunha verificar o alcance de objetivos. Dos anos 1960 a 1980, a principal ideia era a do julgamento de valor com base em critérios padronizados. Finalmente, dos anos 1990 até a atualidade, a ênfase tem sido na negociação de resultados com a participação dos educandos na definição de critérios e indicadores. Na realidade, a avaliação apresenta atualmente uma espécie de mosaico de conceitos e finalidades, destacando-se alguns aspectos como: (1) Prestar Contas (Accountability): diz respeito à responsabilidade dos sistemas educativos de mostrarem à sociedade os produtos de seus investimentos em educação; (2) Negociação: busca constante de melhores critérios, indicadores e instrumentos de avaliação em conjunto dos avaliados; (3) Empoderamento (Empowerment): capacidade de compartilhar a avaliação com os sujeitos que dela participam, na busca do desenvolvimento da autonomia; (4) Metavaliação: avaliação da própria avaliação, fazendo reflexões sobre a relevância (a avaliação tem significado para as pessoas que dela participam?), a utilidade (a avaliação é útil para a população à qual se destina?), a viabilidade (a avaliação mostra-se viável e prática?), a precisão (os instrumentos e critérios permitem resultados confiáveis?) e a ética (a avaliação zela por princípios de respeito, de não coerção, de transparência?); (5) Diferentes níveis: a avaliação ocorre em diferentes níveis (educacional, curricular e de aprendizagem). A avaliação educacional é capaz de verificar, por exemplo, se o país está desenvolvendo uma educação de qualidade, traduzida não apenas em termos de acesso (quantidade), como de qualidade (desenvolvimento da cidadania). Para a avaliação educacional concorre evidentemente a avaliação de currículos, buscando-se neles indicadores sobre a qualidade de seus principais componentes (objetivos, estratégias de ensino, desempenho dos docentes, materiais instrucionais e as formas de avaliação da aprendizagem). A avaliação da aprendizagem é de responsabilidade dos docentes e deve ser proposta a partir de diferentes referenciais como os conteúdos, as habilidades, as capacidades e as competências.
No que se refere às competências, é importante se destacar que, apesar da polissemia desse termo (desde as conceituações como o bom desempenho dos papéis sociais até as mais específicas, relativas a uma habilidade para desempenhar uma atividade dentro de padrões de qualidade desejados), a avaliação das competências segue uma lógica diferente daquela de uma avaliação voltada para uma função classificatória. A avaliação das competências busca verificar a capacidade do educando no enfrentamento de situações concretas, sendo que o foco não é apenas na tarefa, mas na mobilização e articulação dos recursos que o educando dispõe, construídos formal ou informalmente. Esses recursos dizem respeito aos saberes (saber fazer e saber ser) e implicam em desenvolvimento autônomo, assunção de responsabilidades, postura crítica e, sobretudo, comportamento ético.
Referência:
HADJI, Charles. Avaliação desmistificada. Porto Alegre: Artmed, 2001.



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