A FORMAÇÃO SOCIAL DA MENTE DO ALUNO DURANTE A CONVIVÊNCIA NO AMBIENTE ESCOLAR
Por JORGE ESCHRIQUI
Embora seja interacionista como Jean Piaget na medida que também acredita que o desenvolvimento humano depende da interação de fatores inatos e de fatores ambientais, Lev Semenovich Vygotsky, ao contrário daquele autor, defende que o desenvolvimento é um processo que se dá de fora para dentro, pois privilegia o ambiente social. Variando-se esse ambiente, o desenvolvimento também variará. Vygotsky considera que as mudanças que ocorrem em cada um de nós tem a sua origem na sociedade e na cultura. O cérebro (suporte biológico) é importante para o funcionamento psicológico, mas o ser humano depende também das relações sociais que estabelece com o mundo exterior.
É na interação entre o sujeito e o meio que o indivíduo elabora os seus conhecimentos sobre os objetos em um processo mediado pelo outro. Logo, o conhecimento tem a sua gênese nas relações sociais, sendo produzido na intersubjetividade e marcado por condições culturais, sociais e históricas (teoria sócio histórica). Isto explica porque, para Vygotsky, a aprendizagem sempre inclui relações entre as pessoas, pois a relação do indivíduo com o mundo está sempre mediado pelo outro. Para fazer a mediação (a necessária intervenção de outro entre duas coisas para que uma relação se estabeleça), o homem se utiliza de instrumentos (objetos que o homem utiliza no dia a dia para a realização de algo) e signos (elementos que representam ou expressam outros objetos, eventos, situações, como por exemplo, as palavras que dão nome aos objetos).
Os instrumentos e os signos, enquanto objetos sociais, auxiliam o ser humano nas ações concretas e nos processos psicológicos. No caso da criança, as palavras, enquanto signos, são um meio de contato social com outras pessoas, auxiliando o exercício de uma função psicológica superior (atenção voluntária, memória lógica, formação de conceitos, etc.), constituindo-se, portanto, em meios importantes para a transformação do funcionamento mental. Desse modo, as formas de mediação permitem ao sujeito realizar operações cada vez mais complexas sobre os objetos. Não é por acaso que, para Vygotsky, o homem se produz na e pela linguagem, pois a capacidade humana para a linguagem faz com que as crianças providenciem instrumentos que auxiliem na solução de tarefas difíceis, planejem uma solução para um problema e controlem o seu comportamento. Com o decorrer do tempo, o uso dos signos, enquanto marcas externas que auxiliam o ser humano na realização de tarefas de exigem memória ou atenção, dará lugar a processos de internos de mediação, chamados de processo de internalização (relacionado ao recurso da repetição onde a criança apropria-se da fala do outro, tornando-a sua) e utilização de sistemas simbólicos que organizam os signos em estruturas complexas e articuladas. Estes signos internalizados são compartilhados pelo grupo social, permitindo o aprimoramento da interação social e a comunicação entre os sujeitos. A partir desse processo, as possibilidades de operação mental não constituem uma relação direta com o mundo real fisicamente presente. Pelo contrário, a mediação entre o indivíduo e o mundo físico é mediada pelos signos internalizados que representam os elementos do mundo (a linguagem ordena o real, agrupando todas as ocorrências de uma mesma classe de objetos, sob uma mesma categoria conceitual), libertando o homem da necessidade de interação concreta com os objetos de seu pensamento (associação entre pensamento e linguagem).
Contudo, antes do pensamento e da linguagem se associarem, a criança tem a capacidade de resolver problemas práticos (inteligência prática), de fazer uso de determinados instrumentos para alcançar determinados objetivos. A esta fase que ocorre até por volta dos dois anos de idade, Vygotsky denomina de fase pré-verbal e pré-intelectual. Passada esta etapa do desenvolvimento humano, a fala da criança torna-se intelectual, generalizante, com função simbólica, e o pensamento torna-se verbal, sempre mediado por significados fornecidos pela linguagem. Esse impulso só é possível devido ao convívio social da criança com adultos integrados à cultura e com uma linguagem estruturada. Portanto, é este convívio social que fornece ao indivíduo um ambiente estruturado onde os elementos são carregados de significado cultural. O pensamento nasce por meio das palavras que, por sua vez, são apropriadas pela criança devido a uma relação dela com a fala de outro em situações de interação. Logo, a aprendizagem depende das relações entre as pessoas. A aprendizagem possibilitada pela interação com o outro é essencial para o desenvolvimento do ser humano. Quanto maior for a aprendizagem propiciada pela interação social, maior será o desenvolvimento da pessoa.
Para Vygotsky, este desenvolvimento que ocorre durante a aprendizagem é caracterizado por saltos qualitativos de um nível de conhecimento para outro, que é explicado, por sua vez, pelo conceito de zona de desenvolvimento proximal (a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar por meio da solução independente de problemas) e o nível de desenvolvimento potencial (determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com colegas mais experientes). Durante o processo de aprendizagem, o mediador (professores ou colegas mais experientes) tem um papel relevante para que a criança possa alcançar um nível de desenvolvimento que ela ainda não atingiu.
Referências:
VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
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