OS DESAFIOS DE UM PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E A IMPORTÂNCIA DO PROFESSOR
(UM OLHAR SOBRE A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL PARA UMA REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE OS DIAS ATUAIS)
Por GUSTAVO CAPANEMA (Pitangui-MG, 1900 - Rio de Janeiro-RJ, 1985. Bacharel em Direito, político e Ministro da Educação entre 1934 e 1945)
Os trabalhos de multiplicação dos bens, aprimoramento da cultura, elevação das virtudes e outros, em qualquer domínio que sejam as atividades no Brasil, por mais renhidos que pareçam, não produzirão a soma dos frutos esperados, se a educação for pouca e de fraca influência. Mas darão resultados milagrosos, transformando os nossos planos e esforços em coisas reais, úteis e belas, se dermos o sentido e o ímpeto e mobilizarmos os instrumentos numerosos e adequados para essa mesma educação.
O ensino superior precisa ser ampliado e melhorado. A filosofia, as ciências, as letras, as artes e todas as grandes técnicas, devem ser ensinadas, a primor, aos estudantes realmente dotados de vocação para a cultura, de modo que se possibilite, o aparecimento de numeroso contingente de grandes homens, dos quais a nação está necessitando para o seu acelerado desenvolvimento. Tentaremos em vão conquistar um grande destino para o nosso país, se não pusermos na frente de nossos múltiplos esforços uma corte de espíritos notáveis, preclaros, no saber e exatos na técnica. O ensino secundário, hoje já tão difundido, deve subir de padrão, fazendo-se, nos colégios, com maior rigor, não só o aprendizado das ciências, mas também o estudo das velhas, altas e egrégias humanidades.
O ensino profissional, nas suas diversas modalidades (industrial, comercial, agrícola, doméstico etc.), precisa ser estruturado solidamente, criando-se, para cada ramo de trabalho o curso conveniente, capaz de dotar o trabalhador de precisão, segurança, eficiência, esmero, agilidade. No vasto campo do trabalho brasileiro, quantos caminhos errados, quantos esforços perdidos, quantos bens desperdiçados , por falta de profissionais destros e precisos. Sem dúvida só a educação, rigorosamente planejada e executada, poderá resolver essa penosa necessidade. Quanto ao ensino primário, que cumpre incentivar intensamente em todo o país, pois, cerca de 60% de nossa população infantil em idade escolar não dispõem de escola, bem é que se padronizem, ainda que com o mínimo de característicos, diferentes tipos de cursos, que possam ser adequadamente e com facilidade, adotados nos vários pontos do território nacional, nas zonas urbanas e rurais, a fim de que, fazendo-se rápida difusão da educação primária, se facilite a formação de fundo comum na enorme e rica variedade de psique brasileira.
Finalmente, com respeito à educação extra escolar, diremos
que se impõe a necessidade de mobilizar, para a cultura das massas, todos os instrumentos educativos, estranhos à escola e hoje em dia tão numerosos e eficientes. A lei da educação poderá ter aí um dos seus capítulos mais belos. Ademais, é preciso traçar a modalização dos elementos que possam fazer funcionar as instituições educativas, com vantajosos resultados.
Não quero deixar de falar sobre o primeiro e essencial de tais elementos que é o professor.
O professor foi sempre um ser privilegiado. É que é dele, sobretudo dele, que depende a boa ou a má educação. Dele poderá vir para os homens e para as nações o maior bem ou o maior mal, porque é nas suas mãos que se coloca o grave ofício de afeiçoar e preparar o espírito da juventude. Tal a magia do ensino. Tal o poder do professor. Pode-se dizer, portanto, rigorosamente, que uma nação será aquilo que dela fizerem os seus professores. Dessa maneira, na lei de conjunto sobre a educação nacional, há de o professor, certamente, ocupar o lugar de máximo relevo.
As qualidades naturais que dele se devem exigir, a preparação especial que se lhe deve dar, os direitos e deveres e ainda as honrarias que lhe devem ser atribuídas. Que no plano nacional de educação fulgure a figura do professor com a imponência e gravidade. E que essa nobre figura se espalhe pelo Brasil, com uma grande doçura no coração, mas cheia de um sábio rigor, exigindo dos homens que aí vem marchando, para as lutas de amanhã a heroica vigília e a consagração total.
Referência:
CAPANEMA, Gustavo. "Discurso proferido pelo ministro Gustavo Capanema no Conselho Nacional de Educação por ocasião do início dos trabalhos do Plano Nacional de Educação, em 16 de fevereiro de 1937". In: HORTA, José Silvério Baia. Gustavo Capanema. Recife: Fundação Joaquim Nabuco; Editora Massangana, 2010 (Coleção Educadores).
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