ORAÇÃO A SÃO FRANCISCO PELOS ESQUECIDOS E DISCRIMINADOS DO BRASIL E DO MUNDO
Por JORGE ESCHRIQUI
Perdoai-me,
São Francisco,
Se tomo o seu tempo no Mundo Além com este diálogo,
Encontraste ao longo dos caminhos,
Homens e mulheres esfomeados e enfermos,
Abriste mão de tuas riquezas para compartilhar com eles
Alimento, sabedoria, cura e conforto.
Preciso te dizer infelizmente,
São Francisco,
Que nascido tivesses tu na atualidade,
As tuas falas sobre pobreza, caridade e amor ao semelhante
Soariam a muitos indivíduos como "comunismo"
E provavelmente te desejariam a morte,
Como fazem alguns "cristãos",
Inclusive católicos,
Com o Papa Francisco neste momento.
Quero te falar tristemente,
São Francisco,
Que muita gente neste mundo físico
Utiliza-se de gestos de caridade e compaixão,
Que nem sempre vem do coração,
Como uma máscara para esconder aos olhos da sociedade
Uma personalidade egocêntrica e narcisista,
Mas não aos olhos de ti e Deus sempre atentos ao nosso coração,
Que é o espelho de nossa alma,
Onde guardamos os nossos mais verdadeiros sentimentos.
Perdoai-os,
Eu te peço,
São Francisco,
Pois não compreenderam o verdadeiro sentido da espiritualidade
Ou simplesmente não entenderam que Deus e o Espírito Santo, Que várias vezes pregam aos quatro ventos para defendê-los publicamente,
Não estão necessariamente em templos religiosos suntuosos,
Mas certamente se fazem presentes,
Baseados em seus ensinamentos,
No verde das florestas que os homens devastam,
Nas aves que deveriam estar libertas e em festa
E não prisioneiras em uma gaiola sem crimes cometerem
Ou mortas e enfermas por causa do contrabando em prol da riqueza a qualquer custo,
Na brisa amiga que afaga a nossa face e alivia o calor insuportável causado por uma Humanidade que se nega a ver e crer na destruição da Natureza e aquecimento da grande residência coletiva: o Planeta Terra.
Fazei-os entender,
São Francisco,
Que as autênticas espiritualidade e fé não se confundem com igrejas que disputam fiéis como sócios de clubes ou clientes de um comércio,
Decoradas com adornos e projetadas com luxúria por arquitetos e engenheiros,
Mas não para abrigar aquele que deveria ser o verdadeiro proprietário
E sim com o intuito de despertar a atenção dos frequentadores com matéria física ou atrair mais simpatizantes.
Iluminai o pensamento desta gente,
São Francisco,
A partir de teu exemplo de vida,
Para que compreendam definitivamente que Deus se faz presente principalmente no semblante daqueles que sofrem
E passam desapercebidos diariamente diante dos nossos olhos,
Mas que recusamos a enxergá-los por egoísmo ou ignorância,
E assim nos tornarmos cada vez mais cúmplices de desigualdades e injustiças
E, consequentemente,
Deixamos de ser a cada gota de sangue, suor e lágrimas de nosso próximo que sofre
Menos humanizados e mais brutalizados e insensíveis
Banalizando as dores físicas, psíquicas e emocionais presentes neste mundo.
Fazei o ser humano entender,
São Francisco,
Que a verdadeira casa de Deus deve ser acima de tudo
Os nossos corações,
Uma moradia onde ele possa habitar
E se manifestar permanentemente através de atitudes e gestos sinceros,
Não por meio de discursos vazios desprovidos da prática do amor ao próximo.
Perdoe-me,
São Francisco,
Pois comunista/ socialista como optei tornar-me,
Posso não ter moral e ética suficientes para julgar os outros,
Sendo eu mesmo um ser humano que já errei, magoei, odiei e tive dificuldade em perdoar,
Mas a minha consciência me cobra com um preço alto pela indiferença diante dos milhões e bilhões de esfomeados, maltrapilhos, renegados, explorados e violentados deste país e do mundo,
Que provavelmente sofrem muito mais do que eu
Enquanto fico reclamando e resmungando por causa de uma enfermidade que tenho a sorte e a bênção de ter condições materiais de tratá-la.
Sejas benevolente e o meu defensor no Mundo Além,
São Francisco,
Se sou apenas mais um rebelde que faz do queixume o alimento do dia a dia,
Mas podemos falar em humanidade no sentido de irmandade
Se muitos daqueles que são filhos do mesmo Deus
Recusam-se a enxergarem nesta parcela sofredora também os seus irmãos?
Entendas o meu queixume,
São Francisco,
Porque as nossas classes sociais privilegiadas acostumaram-se a viver como senhores e nobres,
Tornando aqueles que vivem permanentemente em situação de vulnerabilidade social figuras invisíveis diante do seu elitismo.
E para quê? Para que o status quo seja eternamente reproduzido e mantido,
Existindo explorados ao extremo e exploradores,
Subnutridos, abandonados e esquecidos e pessoas portentosas e fartas.
Compreendei,
São Francisco,
Que aquele que te fala neste momento
Tem perfeito entendimento de que é uma voz ínfima e quase inaudível na humanidade,
Ainda assim roga e clama pelos excluídos e esquecidos deste país e do mundo,
Deficientes físicos e mentais,
Enfermos em filas de hospitais públicos,
LGBTQIA+,
Moradores de rua,
Habitantes de comunidades periféricas dos centros urbanos, Camponeses sem terra,
Presidiários,
Indígenas,
Quilombolas
E trabalhadores em situação de trabalho análoga à escravidão.
Revelo-te,
São Francisco,
Um desejo meu:
Que bom seria se todos os cidadãos, todas as autoridades,
Todos os cientistas e todos os jornalistas,
Indiferentemente de credo ou religião,
Posição ideológica ou partidária,
Pensassem nesta parcela do Brasil e do mundo esquecida,
Mas tão lembrada em suas falas e exemplo de vida,
Ó São Francisco.
Fazei,
São Francisco,
Que cristãos, judeus, islâmicos, budistas, umbandistas, ateus ou agnósticos não amem aos seus semelhantes apenas com palavras,
Pois o que fazemos,
Enquanto seres humanos e filhos de um mesmo Deus,
Para que o nosso próximo não seja apenas mais um número na estatística do genocídio social que nos aflige,
Como se fosse este país e o mundo um novo campo de extermínio de Auschwitz diário e presente?
Peço-te humildemente como um amigo e admirador de tua vida e obra,
São Francisco,
Despertai a consciência dos que se julgam religiosos e donos do poder político e econômico,
Pois atos de devoção sem comiseração diante da dor do próximo que mais necessita
Não passam de simulação ou blasfêmia que insultam a face de Deus.
Próximo,
Que diante das desigualdades e injustiças,
Talvez desejaria poder esperar,
Mas não pode,
Restando-lhe até o presente momento neste país e mundo apenas sofrer e chorar ainda mais,
Banhando as nossas almas cotidianamente com o seu mar de lágrimas
Por causa da insensibilidade, egoísmo e narcisismo dos seres humanos,
Que cada vez mais aprendem a amar apenas a si mesmos
Sem entender que o verdadeiro sentido do amor
É amar e ser amado,
Pois é dando que se recebe.
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