A COMPREENSÃO DOS CONCEITOS DE HABILIDADE E COMPETÊNCIA PRESENTES NOS DOCUMENTOS OFICIAIS NO ÂMBITO EDUCACIONAL

(O QUE SÃO HABILIDADES E COMPETÊNCIAS?)

Por JORGE ESCHRIQUI
As habilidades e as competências são parâmetros de aprendizagem fundamentais a serem desenvolvidos pelos estudantes em geral de uma rede ou um sistema de ensino ao longo de diferentes etapas da vida escolar. As matrizes de referência de diversos documentos oficiais na área educacional, como por exemplo, a Base Nacional Comum Curricular, o Currículo Oficial do Estado de São Paulo, o Exame Nacional do Ensino Médio e o Documento Básico do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP), descrevem um conjunto de habilidades e competências fundamentais para que se possa refletir sobre a qualidade do ensino ofertado no País a partir da análise da aprendizagem dos conteúdos das disciplinas curriculares e da capacidade dos alunos em mobilizá-los para entender, atuar e resolver situações-problemas de diversos graus de complexidade com que possam se deparar no cotidiano. Não é por acaso que as habilidades e as competências estabelecidas pelos programas curriculares para cada disciplina escolar ao longo de um ciclo, série/ano, semestre, bimestre ou assunto constituem-se nas balizas para a elaboração de questões a serem aplicadas em avaliações sistêmicas que tem como finalidade não apenas acompanhar o grau de aprendizado dos conteúdos esperado para uma determinada etapa da vida escolar, mas sobretudo apontar o nível da qualidade do ensino ofertado nas diferentes instituições e redes de ensino e no sistema educacional brasileiro como um todo. Afinal, uma educação de qualidade pode ser observada quando os estudantes são capazes de transformarem as informações e os saberes aprendidos no ambiente escolar em conhecimentos que deem conjuntamente uma formação cognitiva, social e afetiva sólida para desenvolver análises críticas, pensamentos reflexivos e estratégias com a finalidade de resolver conflitos, seguir as normas de convivência social, atuar em cooperação e saber viver com a diversidade/pluralidade.
Nesse sentido, as competências e as habilidades partem do pressuposto de que o aluno não pode apenas ser um mero depósito de conteúdos prontos e desconectados da realidade na qual ele se insere, tal como acontece no ensino tradicional. Pelo contrário, um currículo baseado em competências e habilidades tem como fundamento teórico a ideia de que os conteúdos das disciplinas escolares devem preparar o discente para “aprender a aprender” ao longo da Educação Básica, isto é, o professor deve ser uma espécie de intermediador entre a criança e o jovem e o conhecimento, desenvolvendo metodologias de ensino que proporcionem uma aprendizagem significativa das matérias de modo que o estudante seja um agente ativo no processo de ensino-aprendizagem. Ao invés de simplesmente memorizar conteúdos para ser aprovado em avaliações somativas, o aluno deve construir e reconstruir os saberes e conhecimentos adquiridos na escola e relacioná-los com a sua experiência de vida, tornando-os instrumentos fundamentais para a compreensão e intervenção na realidade e a solução de problemas nos diversos espaços de socialização/convívio social ao longo da vida (familiar, escola/faculdade, trabalho, etc.).
A partir desta introdução, pode-se buscar uma compreensão sobre os conceitos de competências e habilidades. As habilidades são capacidades que uma pessoa adquire para desempenhar determinado papel ou função. Por outro lado, as competências são a união de habilidades, conhecimentos e atitudes. Em suma, as habilidades constituem-se em apenas uma das três qualidades que compõem as competências.
As habilidades são as capacidades específicas que são aprendidas. Por exemplo, o aluno pode adquirir as habilidades de ler e escrever na escola. Contudo, isso não significa que ele tenha a capacidade leitora e escritora. Tal competência depende de outros aspectos, tais como conhecimento da norma culta da língua portuguesa; capacidade de relacionar de maneira lógica as diversas orações que constituem períodos, parágrafos ou textos; atitude crítica e reflexiva diante de qualquer forma de texto; capacidade de contextualizar e identificar as intenções e os objetivos implícitos e explícitos de um autor ao elaborar determinado texto; conhecimento da tipologia textual (narração, descrição, dissertação); capacidade de relacionar o tema e os argumentos durante a leitura de um texto com a experiência de vida ou saberes prévios, etc. Caso contrário, a capacidade de escrever ou ler algumas palavras ou frases, ainda que sem o domínio da compreensão da leitura ou construção de argumentos fundamentados e lógicos, seria suficiente para dizer que um indivíduo é competente em leitura e escrita.
Ser muito habilidoso não significa que alguém seja necessariamente competente, uma vez que a competência demanda um conjunto de habilidades e conhecimentos relacionados que permitem que uma pessoa atue efetivamente numa situação ou função. Por exemplo, um professor pode ser habilidoso no momento de demonstrar um pleno domínio dos conteúdos da disciplina que ministra, mas se ele não sabe desenvolver metodologias e recursos de ensino de modo que seja capaz de transmitir os conhecimentos que domina e despertar em seus alunos o interesse pelo aprendizado dos conteúdos, pode não ser competente. Outro docente da mesma disciplina, ainda que sem o mesmo nível de domínio dos conteúdos, pode ser mais efetivo ao criar mecanismos e instrumentos que facilitem o processo de ensino-aprendizagem em sala de aula.
As habilidades e as competências são aspectos fundamentais a serem considerados na formação do estudante da Educação Básica em decorrência, principalmente, das demandas do mercado de trabalho no mundo globalizado. Não basta apenas ao profissional ter a habilidade de exercer as funções básicas ou possuir o domínio dos conhecimentos científicos de sua ocupação e área de atuação. Há uma tendência no mercado do mundo globalizado de busca de mão de obra com capacidades para construir e reconstruir conhecimentos (formação e capacitação contínua), ter atitudes cooperativas e de liderança, adaptar-se e dominar novas tecnologias e tomar decisões certas em períodos de crises e instabilidades.
O desafio da Educação Básica brasileira é criar as condições propícias para um ensino de qualidade capaz de garantir ao estudante o desenvolvimento de habilidades e competências que lhe possibilite o exercício de uma cidadania consciente enquanto ator histórico ativo na sociedade e o ingresso no mundo do trabalho por ser capaz de atender às qualificações desejadas pelas novas ocupações resultantes das mudanças econômicas e tecnológicas da pós-modernidade.
Referência:
PERRENOUD, Phillipe. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artmed, 1999.



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