SÓ MAIS UMA OPORTUNIDADE NA VIDA PELO MENOS DEUS...

Por JORGE ESCHRIQUI

Fico em casa neste final de ano só sonhando com a minha cura... Ponho os ritmos que eu gostava de dançar em bailes de dança de salão em academia. Entre todos os ritmos, o que eu mais gostava era o Zouk.

O Zouk marcou muito a juventude que frequentava as academias de dança de salão nos anos 2000 e 2010. É um ritmo que, embora sensual, não é vulgar. Ao contrário, as suas músicas caracterizadas pela batida mais forte a cada três tons. O mais tradicional sempre é cantado em francês. Por outro lado, o Zouk moderno normalmente são sucessos internacionais em inglês dos anos 80 e 90 que são remixados de firma a se adequar ao ritmo e à batida dos tons da música.

O Zouk é sensual porque ele envolve movimentos que encenam um suposto jogo de sedução, ainda que respeitosamente (pois dança de salão nunca teve nada a ver com qualquer forma de assédio). Dança-se normalmente bem junto, com movimentos que exigem muito "molejo" de cintura, troca de olhares entre os parceiros e uma dose de força física e jeito em decorrência de movimentos belíssimos, como por exemplo, os "cambreias", sobretudo o de mesa, em que o parceiro segura a dama apenas com a força das suas duas pernas e de um dos seus braços.

Lembro-me dos professores me ensinando a dançar e sentir o ritmo da música. Diziam-me: "Jorge, dança não é algo mecânico. Você precisa esquecer de tudo à sua volta, ver apenas você e a sua parceira, sentir cada letra da música, escutar as batidas, os tons e ritmos e dançar por amor, não para exibição para os outros. Dançar bem ou mal é consequência do que você traz dentro de si através da dança. Não se preocupe em errar, mas corrija. Dance primeiramente para você e a sua parceira e depois para o resto do mundo. Sempre alguém criticará algum detalhe. E aplausos são consequência".

Saudade de quando era jovem, bonito e saudável. Como fui instrutor de dança na juventude e dançava vários ritmos relativamente bem, quando frequentava os bailes de dança de salão em academias ou clubes de Brasília e São Paulo ou fazia apresentações aos finais de ano, levantava suspiros e algumas vezes até uma ponta de inveja em moças. Pena que, naquela época, era tímido demais e tinha uma baixa estima sem motivação alguma e, por isso, normalmente eram outras colegas instrutoras de academias que me convidavam para dançar. Mulheres que eram alunas ou simplesmente convidadas e frequentadoras de bailes tinham que me convidar. Este era um erro que reconheço. Mas como disse, não era timidez da minha parte. Tratava-se de inibição bobo ou baixa estima sem explicação. Por que eu digo inibição sem explicação? Porque hoje, quando olho as fotos e os vídeos da época ou puxo nas memórias os momentos bons que vivi naquela época, reparo que era jovem, cheio de vitalidade, sonhos, charme, beleza, vigor e me vestia bem.
Obrigado e perdão minhas parceiras por tudo o que vivemos juntos. Juliana com a sua beleza cor de canela, cabelo negro na cintura e sorriso de marfim. Era brava comigo quando eu errava. Ainda era aluno e estava descobrindo os primeiros passos da dança de salão. Mas a primeira apresentação, ainda como aprendiz, foi com você. Tanto que nunca me saiu da cabeça aquela música folclórica de Cali na Colômbia que dançamos juntos: "Moliendo Café".

Gabriela, peço perdão do fundo do meu coração. Você me transformou durante um ano no "príncipe da salsa" na academia, sem falar que eu dançava Zouk, Forró Universitário, Merengue e Reggaeton super bem. Pena que errei com você. Não era para lhe ter magoado. Éramos para ser amigos e parceiros. Mas era jovem e me encantei demais com a sua beleza, ternura e charme. Infelizmente encerramos a nossa parceira mal e, hoje, a consciência me cobra... Eu errei e espero um dia que nos encontremos na eternidade para lhe pedir um perdão sincero.

Mariane era super carismática e popular. Fizemos uma apresentação linda de salsa portorriquenha no Iate Clube de Brasília. Inesquecível pela amizade que se estendeu todas as vezes que nos encontrávamos nas férias no clube de dança Caribenho no Lago Sul.

Nívea... Por onde andas? Cada qual seguiu o seu caminho. Mas aquelas apresentações no Iate Clube de Brasília no final das férias de verão, hein? Músicas escolhidas na ponta dos dedos. No forró dançamos "Feira de Magaio" de Sivuca e Glorinha Gadelha na belíssima interpretação de Clara Nunes. Mas a apresentação mais linda da minha vida foi a valsa do filme "Dança Comigo?" ("The Book of the Love" de Peter Gabriel). Estávamos vestidos tão elegantemente e dançamos tão bem que parecia que fomos transportados para o filme. Senti-me dançando - só dançando, é claro - o próprio Richard Gere. Foi a apresentação mais linda da minha vida.

Aliás, nunca mais tive coragem de assistir "Dança Comigo?". Infelizmente me traz lembranças boas que guardo da dança de salão que me causam tristeza profunda e vontade enorme de chorar. Nem posso ouvir a trilha de abertura, "Sway" da Pussy Cats Doll, que parece o passado voltar todo à minha memória.

Gratidão Rey Castro de São Paulo (saudades de quando era na Vila Olímpia) e, principalmente, Caribenho de Brasília. Quantas amizades e colegas fiz nas noites de sexta-feira na ASEEL-Avenida das Nações. Saudades do Luiz, do Valdir, da Gabriela argentina, do Eduardo, da Dandara, da Mariane, entre outros que não me vem os nomes agora (desculpa, mas a memória anda falhando por causa do excesso de medicamentos).

Não sei se estou sendo injusto com Deus, a natureza ou até comigo mesmo, mas bate uma tristeza ao me olhar no espelho atualmente, perceber o peso da idade piorado várias vezes pela enfermidade que se abate sobre mim. Também atualmente os sonhos não existem. O que há é só a expectativa do próximo dia que pode ser ou não o último, sem falar que tenho carro belo, casa boa, estudo e roupas bonitas e da moda. Mas para que se eu não posso usufrui-las? Bate tristeza...

Rever a mim mesmo na TV de casa ou em fotos antigas dançando ou fazendo apresentações de dança de salão na juventude traz sentimentos ambíguos. Por um lado, saudade gostosa de algo que fiz e vivi que me fez bem. Por outro, tristeza ao cair na realidade e ver o meu estado atual. Tenho a sensação de que o tempo parou para mim enquanto para os outros avança de maneira fulminante os ponteiros do relógio e a realização de sonhos.

Enquanto as pessoas desejam dinheiro, trabalho melhor, casamento, formatura, entre outras coisas neste final de ano, eu só desejo uma coisa simples que passa desapercebida à maioria dos indivíduos quando tem. E em alguns casos nem valorizam. Só gostaria, Deus, de presente de Natal duas coisas, se não for pedir muito, por favor. A minha saúde e a oportunidade de dançar um último Zouk, ainda que não tão bem como na juventude, antes de morrer...

Aproveite e valorize a sua saúde e a vitalidade. Não deixe para amanhã o que pode ser concretizado a tempo. Porque a vida é uma vela que se apaga com um simples vento e, por consequência, pode não haver amanhã para ver os seus sonhos e desejos realizados em sua existência. Hoje vivo só de saudades, esperança, persistência e fé. Foram as coisas que me restaram. Pense nisto e agradeça a Deus, ao universo, à natureza ou em que você crê por ter o básico enquanto outros, como eu, desejam o tão simples que passa desapercebido diariamente pela maioria das pessoas... Muitas vezes tive, aproveitei e curti, mas não pensei que precisava valorizar cada momento, pessoa e local que conheci através da dança de salão...



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