ONTEM À NOITE EU TIVE UM SONHO

Por JORGE ESCHRIQUI

Ontem eu tive um sonho ao me deitar à noite. Sonhei que encontrei São Francisco em pleno sertão do Nordeste brasileiro. Sentou-me ao meu lado em um lajedo de pedras. Perguntei-lhe: "Não há perigo de se esconder pedras aqui? Normalmente as cobras no sertão costumam se esconder nas frestas destas grandes rochas e pedras por aqui?". Então, ele me respondeu: "Caro irmão, por onde anda a sua fé ao longo da sua vida? A sua dor não aumentou a sua crença na existência de um Ser Superior e em milagres?". Eu lhe pedi desculpas. E ele me respondeu: "Irmão, peças desculpas ou perdão ao Senhor, não a mim. A minha oração já expressa que é perdoando que se é perdoado. Jamais guardei mágoas, ódios ou rancores mesmo daqueles que durante a minha passagem na forma humana e física por este mundo. Se não era capaz de perdoar o meu próximo, por mais difícil que fosse, como poderia ser capaz de desejar que as minhas ofensas à Natureza, aos meus semelhantes e aos irmãos irracionais também me perdoassem?"

São Francisco continuou: "Sei que estás sofrendo, irmão. Porém, não se preocupe. O Senhor se faz presente, principalmente, ao lado daqueles que mais sofrem. Afinal, por que acha que estou espiritualmente presente em meio a este sertão árido, quente e com muitas pessoas carentes, embora ricas em fé? Exatamente porque o Senhor viu que eu deveria continuar a minha missão pós-morte. Deveria ir e permanecer entre os mais necessitados, inspirar outros missionários da fé como um dia eu fui a ajudarem espiritual, física e financeiramente os mais vulneráveis na sociedade e levar esperança aonde parece tudo perdido". E eu lhe perguntei: "Por que me chamaste aqui?". Pensou, refletiu e me fitou com um olhar sereno e de piedade antes de responder: "Por acaso não rezas a minha Oração da Paz diariamente, embora na maioria das vezes não a sigas à risca os dizeres nela presente? Não cantas canções dos romeiros que, quando podem, vêm me visitarem aqui em Canindé, ainda que estejas a milhares de quilômetros de distância? Compreendas, irmão, o Senhor e os seus enviados fazem-se presentes entre os enfermos. Aqueles que não creem em uma Força Superior e não acreditam em um futuro melhor com as suas curas, infelizmente podemos somente enviarmos energias de conforto. Porém, aqueles que com a dor física e psicológica aprendem que um homem sem fé no Senhor e no futuro não pode sobreviver neste mundo, sempre Ele dá um jeito e envia um anjo da guarda ou outro espírito de luz para ajudá-lo permanentemente sem caminhada árdua".

Refleti um pouco e questionei: "Por que, então, São Francisco, algumas pessoas sobrevivem, são curadas, têm direito a um milagre e outras não, embora peçam igualmente a intercessão divina?". Ele me respondeu: "Depende do nível de fé e daquilo que cada um plantou e merece colher na vida. Também não se pode esquecer que não há nada que não possa ser perdoado e reconsiderado pelo Senhor".

Novamente eu perguntei: "Por que alguns sofrem por muitos anos e outros por um intervalo de tempo terreno mais curto". São Francisco sábia e calmamente me disse: "Irmão, quantas vezes quando temos a plena saúde não pensamos e refletimos sobre as nossas atitudes e convicções? Quantas vezes não maltratamos a Natureza, os irmãos irracionais ou os semelhantes, se não fisicamente, mas através de ações palavras duras que algumas vezes podem ser piores do que uma agressão física? Quantas vezes não fechamos os olhos para aqueles que estão enfermos e acamados, suplicando amor fraterno em um momento de angústia ou passando necessidades materiais e desejando uma gota do nosso amor através da caridade? E o que geralmente acontece com a maioria das pessoas quando estão em sua plenitude física e material? Esquecem-se delas, viram-lhe o rosto ou simplesmente pensam que se não é com elas. Assim pensam: paciência, cada qual carregue a sua cruz, não é comigo. Se fosse, ninguém faria nada por mim também. Ou deixe que as instituições sociais, o Governo dos Homens ou Deus se virem com elas em uma atitude totalmente egoísta e altamente danosa não apenas para os que sofrem, mas para aqueles que assim pensam, pois o egoísmo mata paulatinamente a humanidade. E sabe por que temos humanidade? Porque fomos feitos à imagem e semelhança de Deus. Não no sentido que somos 'pequenos deuses', mas porque, durante a sua passagem pela Terra na forma humana, o Senhor esteve presente exatamente entre os mais vulneráveis em sua época: as prostitutas, os leprosos, os cegos, os esfomeados, os pastores, entre outros indivíduos humildes e desejosos do seu amor e atenção".

Logo após, São Francisco continuou: "Irmão, muitas vezes a enfermidade e, consequentemente, a dor física e psicológica que ela traz consigo, serve para a evolução espiritual, moral e ética do ser humano. Para que ele repense visões de mundo, hábitos, costumes e comportamentos que lhe impedem neste sentido. E a superação da doença demanda um diálogo com a consciência. Ela exige reflexão de tudo o que se fez nesta vida, arrependimento, reparação de alguma forma e redenção por meio da cura física e espiritual". E para aqueles que morrem ou simplesmente, mesmo durante a doença, não compreendem isto, perguntei-lhe novamente. Ele prontamente afirmou: "Irmão, o Senhor não é um inquisidor ou justiceiro que quer acertas contas ou se vingar dos seus filhos. Ele sempre perdoa. Seja no plano físico ou espiritual, um dia aquele semelhante se arrependerá sinceramente de todo coração e alma e sempre terá o perdão e a compaixão divina, sendo acolhido novamente assim como um pastor faz quando recupera uma ovelha desgarrada e a recoloca em seu rebanho".

São Francisco rapidamente completou: "Irmão, a vida é um livre arbítrio. Escolhemos encarar as dificuldades como insuperáveis e nos lastimarmos eternamente ou entendê-las como um ensinamento para que saiamos mais fortalecidos, amadurecidos e dotados de maior humanidade. Tu não estás mais fortalecido em sua fé no poder sobrenatural e divino e no futuro? Não começaste a valorizar as pequenas, mas não menos importantes, coisas da vida, enxergando a beleza nelas presentes? Não percebeste aquilo que é realmente mais valioso no plano físico, como por exemplo, ter saúde, possuir fé e sentir-se compreendido e acolhido por outros irmãos? Já é um começo da tua evolução que comentei anteriormente".

E o que posso esperar do futuro, São Francisco? Então, Ele me respondeu: "Se plantares o bem, colherás o bem. Se plantares o mal, colherás o mal. Se fores um homem de pouca fé, nada ou quase nada poderás esperar da vida. Mas se tiveres fé, acontecendo o melhor ou o pior desde o seu ponto de vista, cairás de pé como um verdadeiro guerreiro do bem. Não foi por acaso que os seus pais lhe colocaram o nome de Jorge e nasceste no dia 23 de abril. Ou acha que tudo na vida é somente fruto do acaso? Não acreditas na providência divina?"

Respondi-lhe prontamente: "São Francisco, sinto saudades da minha infância e adolescência na casa dos avós maternos no Ceará. Ao me recordar do meu avô José, tão devoto seu, e, principalmente, da minha avó Luzia, tenho uma mescla de sentimentos: nostalgia de um tempo que não retornará mais, esperança de que estejam bem no outro lado da vida, lembranças da Ave Maria Sertaneja de Luiz Gonzaga tocando no rádio colocado no alpendre da fazenda ao entardecer, da vó preparando a goma para fazer tapioca sentada em uma cadeira olhando ao longe a cidade, do vó lavando os pés após a lida diária com o gado no portão de entrada, eu ajudando a pôr as galinhas para o muro para fechá-lo, entre outras cenas... Tenho também vontade de voltar o Nordeste no futuro para morar, sentir-me mais perto da família e da sua Basílica em Canindé. Algumas pessoas me criticam e dizem que estou louco em trocar o Centro Sul pelo Nordeste julgando esta região apenas por seus aspectos negativos que a mídia divulga. O que achas disto tudo, São Francisco?"

São Francisco calmamente me afirmou:" Irmão, acabaste de confirmar o que eu lhe disse. Estás na fase de valorização das coisas importantes e mais essenciais na vida. Isto por si só já diz qual pode ser o seu futuro. A escolha está feita, agora é o seu livre arbítrio, a fé e o desejo de viver que dependem exclusivamente de ti".

Antes da despedida em meu sonho, São Francisco afirmou: "Um último ponto gostaria de lhe dizer, irmão. Os anos seguintes, inclusive de 2025, serão produtos da tua colheita. Quanto a mim, não precisas prometer. Basta apenas ter fé. Saiba que foi sob a graça de Deus que recebi o poder de ajudar este sertão sempre a renascer e fazer o bem. Por isso, independentemente de onde estejas, irmão, estarei sempre ao teu lado desde Canindé. Paz e Bem!".



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