AH PRIMEIRO E ETERNO AMOR DA ADOLESCÊNCIA, QUANTA INSENSATEZ...

Você que já gostava aos quinze anos do gênero musical Bossa Nova, principalmente da canção "Wave" de Antônio Carlos Jobim, dizia-me em carta que a vida nos ensinaria a sermos mais humanos. Que a convivência com cada indivíduo que passasse por nossa existência consistia em uma permanente troca de conhecimentos e experiências, hoje virou as costas para aqueles que amavam você, inclusive eu... Vivendo agora enclausurada - compreendo que cada um tem o seu livre arbítrio para escolhas na vida - não ouves ninguém. Pelo contrário, compreendeu que nossos conselhos, palavras de afeto e cartas escritas por aqueles que gostavam de você eram tentativas de conduzi-la por caminhos errados...

Em um única aspecto desta cartinha que guardo no fundo da gaveta da minha cômoda, como se fosse um passado cada vez mais distante e impossível de acontecer nesta vida, estava corretíssima. O futuro é realmente incerto. Tanto é incerto que prefiro não guardar a sua imagem do presente, mas daquela mocinha gentil, cordial, sorridente, inteligente e sedutora que me acompanhava todos os dias para a escola, estudava junto comigo, chegou inclusive a fazer a inscrição de vestibular, passando juntos cada qual em seu curso na mesma universidade pública. Até aquele momento achei que este fato seria um sonoro "sim" do destino a nosso favor.

Penso sim em nossa existência, como propôs nesta cartinha. Porém, o pensamento que me vem é que infelizmente as pessoas podem mudar bruscamente, inclusive influenciadas de maneira boa ou má pelas circunstâncias e pessoas que podem cercá-las em um determinado momento da vida.

Morro aos poucos, independentemente da dor física e sentimental que sinto neste período da minha existência. Por que morro? Morro porque sei que da morte ou passagem para o plano espiritual não se escapa, seja daqui a umas horas, uns dias, uns meses ou alguns anos... Mas sabe o que mais me mata e machuca? Saber que agora somente poderemos ter um encontro do outro lado da vida, se este lugar realmente existir...

Se nesta carta me dedicaste a canção "Wave", hoje eu a responderia com outra belíssima composição da Bossa Nova de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, que ouço neste momento sozinho e de olhos fechados. Quanta "Insensatez" que nos fez distantes um do outro... Acho desnecessário escrever mais, a letra da música que lhe dedico já diz bastante sobre o que o destino nos reservou em que se transformou o nosso amor da adolescência, Margareth.

INSENSATEZ

Por ANTONIO CARLOS JOBIM / VINICIUS DE MORAES

Que você fez
Coração mais sem cuidado
Fez chorar de dor
O seu amor
Um amor tão delicado
Ah, porque você
Foi fraco assim
Assim tão desalmado
Ah, meu coração
Quem nunca amou
Não merece ser amado
Vai meu coração
Ouve a razão
Usa só sinceridade
Quem semeia vento
Diz a razão
Colhe sempre tempestade
Vai, meu coração
Pede perdão
Perdão apaixonado
Vai, porque quem não
Pede perdão
Não é nunca perdoado.



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