APESAR DE TUDO, NÃO PERCAMOS A NOSSA HUMANIDADE E CAPACIDADE DE AMAR E SER AMADO
Por Jorge Eschriqui
Às vezes a vida parece nos fazer parar no tempo. Todavia, o tempo cronológico não para. Somente a vida nos dá uma pausa mais curta ou mais demorada da rotina corrida do dia a dia para revermos conceitos, opiniões e comportamentos ou reavermos e/ou descobrirmos belezas desta breve existência que passam desapercebidas ou até então inexistentes. A vida que lhe tira algumas coisas momentaneamente é a mesma que lhe mostra que a Humanidade não está perdida. O ser humano é capaz sim de ser bonito física e culturalmente.
Não devemos ser alienados? Lógico que não. Os problemas da cidade, do estado, do país e do mundo estão aí, todos os dias nos noticiários. Faremos vistas grossas a eles? Não, pois seria a negação do nosso posicionamento político e das nossas causas sociais.
Todavia, simultaneamente, não devemos deixar que tais problemas do cotidiano também nos faça perder a esperança na vida, no Estado, na sociedade e, sobretudo, na Humanidade. Afinal, não podemos ter um coração e uma alma tomamos apenas pela obscuridade diante dos desencantos que há na vida e no mundo; incapacidade de conceber - ainda que utopicamente - dias melhores para o mundo (sem tantas guerras, fomes, pestes, concentração de riquezas, etc.); e insensibilidade ante as grandezas inovações tecnológicas, os avanços da ciência e as produções culturais que tornam as nossas vidas mais fáceis e mais leves.
Ainda que parado no tempo por instante por causa dos problemas de saúde que enfrentamos, quando vemos seres humanos pensando e atuando ativamente para tornar os sacrifícios, reduzir as dores físicas, mentais e da alma, paramos para pensar e meditamos: Sim, o mundo e a Humanidade não estão perdidos.
Há seres humanos tomados pela obscuridade mental e sentimental diante dos seus semelhantes? Lógico que há. Quer demonstração maior disto do que as ideias de supremacia; o ódio ao pensamento contrário; o extermínio dos adversários ou grupos considerados "inimigos"; a concentração de riquezas nas mãos de minoria em detrimento de um mundo com mais igualdade social em nome de uma "meritocracia" nem sempre observada efetivamente no cotidiano ou até mesmo justificada pelo biologismo social, como por exemplo, a Lei da Seleção Natural de Charles Darwin que propõe a sobrevivência apenas dos mais mais "fortes e capazes"; e o egocentrismo que impede abrir-se para o amor a alguém - quaisquer que sejam as formas de amar - e, por conseguinte, de amar a si próprio?
Aliás, sobre este último aspecto, pegamo-nos sozinhos nas poucas horas de descanso, isolamento e reflexão em nosso lar (fora de hospitais, clínicas, laboratórios, etc.) e refletimos: Quem não desperta em si mesmo a autoestima, demonstra-se indiferente diante um belo poema, canção, filme, peça ou qualquer outra produção artística que aborde e tente desabrochar em nós o sentimento sublime do amor, será capaz de amar a alguém? Somente amaremos - seja através do amor fraterno, seja por meio do amor entre casais, independentemente de opção sexual - se superarmos as trevas que cobrem nos nossos corações e as nossas mentes diante um bombardeio diário de más notícias, dificuldades e intolerâncias de convivência coletiva e insensibilidades diante da dor física e da alma do outro; se olharmos no espelho e enxergarmos as nossas qualidades externas e internas mais do que os nossos defeitos ou "feiuras" estabelecidas por um padrão estético imposto pela sociedade em diferentes momentos da história; se nos emocionarmos diante da beleza que a vida nos proporciona diariamente e muitas vezes não enxergamos diante da correria cotidiana; se tirarmos um tempo para dizer "eu te amo", "você é importante para mim", "nós dois temos defeitos, mas o que temos em comum forma laços mais fortes do que as nossas diferenças", "vamos compartilhar as responsabilidades", etc.
Ser sensível; demonstrar e espalhar amor; abrir o coração e a alma sempre na medida do possível para aqueles que amamos e são realmente imprescindíveis em nossas vidas, com os quais compartilhamos em alguns casos o mesmo teto; fazer de cada dia um eterno dia dos namorados (uma singela flor, um "como foi o seu dia?", um "vamos sair para jantar ou dançar", um poema simples, a recordação de datas importantes para aquele(a) que amamos); respeitar as opiniões contrárias; saber ouvir e falar para se chegar a um consenso; ouvir uma música romântica; etc., não torna ninguém mais fraco ou mais forte. Não é demonstração, como pregam machistas, de maior ou menor masculinidade. Significa que não deixamos a nossa humanidade morrer em nós.
Quando isto acontece, amamos a nós mesmos e podemos amar ao outro. Quem nada tem ou não quer oferecer algo sentimentalmente, o que pode receber do outro em contrapartida? Ame-se, não perca a sua humanidade e ame aqueles que podem somar e são fundamentais em sua vida.
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