ASPECTOS GERAIS SOBRE O LIVRO DIDÁTICO E O CONCEITO DE TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA
Por JORGE ESCHRIQUI
A afirmação de que o livro didático seria um produto da indústria cultural prestes a ser aposentado fundamenta-se principalmente na argumentação de que este recurso didático seria utilizado como uma espécie de "muleta" pedagógica por parte de professores mal formados para a escolha de conteúdos, conceitos, competências e habilidades a serem trabalhados em sala a partir da forma como são organizados e abordados teórica e metodologicamente os assuntos pelo livro. Dessa maneira, ao invés de se constituir em um dos possíveis recursos a serem empregados em um processo de aprendizagem reflexiva dos conteúdos por parte dos discentes, acaba por se tornar em um instrumento de memorização de informações em um processo de ensino tradicional no qual o aluno é tratado como um agente passivo durante a aprendizagem, ou seja, um mero receptáculo de conteúdos sem reflexão crítica e desconectados da sua realidade (denominado por Paulo Freire como educação bancária).
Contudo, é importante observar que mesmo um livro didático questionável no que se refere à abordagem teórica e pedagógica dos conteúdos, por exemplo, da disciplina de História, pode ser um importante fator no processo de ensino e aprendizagem. Primeiramente, o professor pode utilizá-lo como um documento para uma reflexão crítica por parte dos discentes sobre os textos e as imagens nele contidos, levando-os à percepção de que a narrativa e a análise históricas não são apenas o resultado de uma ciência que tem as suas teorias e metodologias próprias para a interpretação do passado, mas que também são influenciadas pelas visões de mundo e experiências pessoais daquele que produz o conhecimento histórico.
Em segundo lugar, o professor precisa superar a visão da História que o autor de um livro didático pretende expor e propagar da liberdade de apropriação de que dispõem ele e os alunos enquanto leitores desta obra. Em outras palavras, cabe ao professor aceitar passivamente os pontos de vista e a análise dos fatos históricos contidos no livro ou trabalhar reflexiva e criticamente os conteúdos, as informações e as interpretações presentes nele.
Finalmente, o livro didático no Brasil é produzido, em geral, na região Sudeste, sobretudo no eixo Rio-São Paulo, e diante da impossibilidade de abordar todas as particularidades regionais e locais existentes no país, compete ao professor adaptar os conhecimentos existentes nele à realidade da região e do local onde a escola onde ministra aula está localizada, ou seja, trazendo os conteúdos o mais próximo possível do cotidiano dos discentes. A este processo pedagógico dá-se o nome de transposição didática, isto é, trata-se da capacidade de se dar sentido aos conhecimentos científicos ensinados e aprendidos nas disciplinas escolares para o aluno, aproximando-os da sua realidade e demonstrando a funcionalidade deles para além da sua vida escolar.
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