A LEITURA, A CONTEXTUALIZAÇÃO E A ATRIBUIÇÃO DE SIGNIFICADO AO CONHECIMENTO DO MUNDO NO ENSINO MÉDIO
Por JORGE ESCHRIQUI
Os alunos da Educação Básica demonstram um certo desinteresse pela área de Ciências Humanas decorrente da resistência à leitura. A disciplina de História, por exemplo, pode contribuir para a solução deste problema educacional desde que os professores reflitam sobre quais fatores de ordem social e cultural podem ser apontados como explicativos para a prática de resistência à leitura. Além disso, mais do que refletirem sobre tais questões, os docentes devem rever os seus próprios hábitos de leitura e precisam buscar práticas pedagógicas que incentivem os estudantes a ler.
Há a necessidade da abordagem dos conteúdos tratados em sala de aula a partir de uma problematização fundamentada na leitura de textos. No caso específico da História, a disciplina pode possibilitar o desenvolvimento das habilidades de leitura, reflexão e escrita por meio da interpretação contextualizada de documentos históricos. Este procedimento implica em despertar no aluno a consciência de que o conhecimento histórico é o resultado de uma construção metodológica e não um saber acabado ou uma verdade absoluta. Dessa maneira, os discentes podem analisar através dos discursos presentes nos documentos os sujeitos históricos que os produziram, as intencionalidades e os significados que deram sentido para os diferentes fatos históricos.
Ao se fazer esta iniciação histórica do aluno, tem-se como objetivo não a formação profissional dele na disciplina, mas induzi-lo a um processo de reflexão sobre uma determinada realidade histórica e à compreensão de como o conhecimento produzido sobre essa realidade foi construído. Contudo, é importante ressaltar que o trabalho com a interpretação de documento em sala de aula não deve ter uma função apenas ilustrativa ou de reforço da narrativa histórica e dos conteúdos apresentados no livro didático. Pelo contrário, a ideia é possibilitar ao estudante a percepção de que o documento fala e que o faz conforme as perguntas que são feitas a este, constituindo-se tanto em objeto de pesquisa histórica como em manifestação do ponto de vista sobre a realidade de um sujeito atuante em seu tempo. Entre possíveis questionamentos a se levantar durante o trabalho pedagógico de leitura crítica e reflexiva de documentos com os alunos nas aulas de História, pode-se citar os seguintes: O que é o documento? Quem o fez, quando o fez, em nome de quem, com quais propósitos? Qual é a relação do documento no contexto de sua produção com a realidade mais ampla a que se quer chegar?
Em outras palavras, a leitura crítica e reflexiva por parte do discente leva à conclusão por parte dele de que o documento não é um fornecedor de dados prontos ou um espelho fiel de uma realidade, mas um discurso produzido por um dado sujeito histórico que busca através de uma dada construção narrativa sobre o passado construir uma determinada memória histórica. Desse modo, o aluno desperta em si a consciência de que ele não é um mero receptáculo de conteúdos acabados, mas um agente reflexivo e produtor de seu conhecimento durante o processo de ensino e aprendizagem.
A disciplina de História tem muito a contribuir para a formação de um aluno com senso crítico desde que o professor não se restrinja apenas a aulas expositivas que tornam o discente em apenas um consumidor de conhecimento pronto e acabado, trabalhe com a leitura crítica e a reflexão de documentos e enxergue o estudante como um sujeito ativo no processo de ensino e aprendizagem. Em outras palavras, o estudante precisa ser alguém capaz plenamente de se colocar, discutir, tomar a palavra e questionar os pressupostos do que lhe é dito ao longo dos conteúdos curriculares trabalhados em sala de aula.
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