PRECISO AMAR PARA QUE SEJA AMADO

Por JORGE ESCHRIQUI
Antes de se dizer que ama ou é apaixonado(a) por alguém e considerá-la(o) como namorada(o), noiva(o) ou esposa(o), é preciso partir-se do pressuposto de que não se aprende a amar ninguém quando não se dá valor à própria vida e não se ama aos seus semelhantes e ao mundo que o(a) rodeia.
Como se aprende a amar à própria vida? Quando é desnecessário perder a saúde física, mental ou espiritual para que se possa agradecer pela própria existência diariamente. Um ponto de partida é refletir sobre a própria concepção. Entre milhares ou milhões de espermatozoides no útero materno, eu venci a disputa e consegui fecundar o óvulo que iniciaria a minha luta pela vida. Durante a gestão materna, podemos pensar que temos sorte e somos seres abençoados quando não somos frutos de violência sexual, não somos abortados e somos tratados com afeto quando a mãe possui condições materiais e faz todos os acompanhamentos pré-natal e o pai dignamente assume a sua paternidade (afinal, pai e mãe são aqueles que efetivamente comportam-se enquanto tais). E ainda que os nossos pais biológicos por diversos motivos não podem nos assumir ou nós os perdemos antes do nascimento ou durante a infância ou adolescência, somos privilegiados quando somos criados por outros parentes ou adotados por outras famílias com carinho ou mesmo acolhidos em instituições sociais (abrigos ou orfanatos) que nos impedem que sejamos jogados à própria sorte neste mundo.
Amamos à própria vida também quando agradecemos pelo lar que é o nosso aconchego e a nossa segurança, pelo alimento que nos dá a energia para lutarmos diariamente para a realização de sonhos pessoais, pela família biológica ou não que nos acolhe e nos forma enquanto indivíduos humanizados, pela escola que nos forma intelectual e socialmente para o mundo e pelos bens materiais que nos proporcionam conforto e alguma qualidade de vida quando utilizados moderada e comedidamente. Também amamos à própria vida quando temos consciência de nossas qualidades, nossos defeitos e nossas limitações físicas e cognitivas e, ainda assim, não nos lastimamos ou sentimos inferiores a ninguém. Mas, ao invés desta prática nociva para o emocional, olhamos para o espelho e amamos a nós mesmos sem deixarmos de procurar permanentemente a nossa melhoria física, moral, ética e intelectual. Afinal, este corpo necessita ser bem cuidado e respeitado porque ele é a residência provisória do nosso espírito durante a nossa passagem por este mundo.
E quando aprendemos a amar aos nossos semelhantes? Quando começamos a enxergar em cada pessoa de nosso convívio social um irmão. Cada irmão é alguém que merece respeito, amor, compreensão e ajuda nos momentos mais difíceis de sua vida. Também quando, por maior que seja a dor que o outro tenha nos imposto por suas atitudes ou falas, temos a capacidade de perdoar, esquecer e tocar adiante as nossas existências. Não se precisa necessariamente aceitar mais aquela pessoa em nossas vidas, mas não carreguemos mágoas ou ódios eternos. Tais sentimentos são venenos para o nosso corpo, a nossa mente e o nosso espírito.
Amamos o nosso mundo que nos rodeia quando agradecemos diariamente pelo sol que nos aquece e desperta para um novo dia, pelo ar que respiramos, pela lua que clareia a escuridão da noite e pelas plantas que embelezam os nossos caminhos, pelos animais que, além de irmãos inocentes, fazem-nos companhia neste mundo, tendo cada um deles uma função importante na natureza, desde os menores até os de maior porte, passando por aqueles que são aparentemente inofensivos chegando até os selvagens ou considerados peçonhentos. Todos merecem o nosso respeito por serem criações divinas e contribuírem à sua maneira para a vida terrena. Um inseto pode servir de alimento para outro animal. Uma cobra pode ter o seu veneno retirado para a produção de vacina para picadas ou outros fármacos. Um animal selvagem ao se alimentar de outros evita uma super população de outros animais, o que possibilita o equilíbrio da fauna em um determinação região.
Quando valorizamos as nossas vidas, amamos os nossos semelhantes indistintamente, agradecemos pelas dádivas que nos são concedidas diariamente, preservamos o planeta que é a nossa casa maior e respeitamos todas as formas de vida, transformamos os nossos corpos, as nossas mentes e os nossos espíritos em moradias da paz, da harmonia, do amor fraterno e incondicional. Somente quando somos capazes de nos amar e amarmos a tudo o que nos cerca, teremos possibilidade de sermos alguém realmente especial para outra pessoa. Afinal, todo relacionamento amoroso precisa ser uma estrada de mão dupla, pois é amando que se é amado, é dedicando-se ao outro que se é dedicado, é valorizando que se é valorizado, é compreendendo que se é compreendido e é cultivando a paixão diariamente através de pequenos, mas simbólicos gestos, que se vive feliz intensamente com o(a) amado(a).
Que os nossos olhos sejam sempre a verdadeira expressão das nossas almas. Que as nossos espíritos e gestos cotidianos sejam o espelho da dádiva divina do amor incondicional a tudo e a todos! Paz e Bem!



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