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  EDUCAÇÃO E INFÂNCIA (Extraído da obra "Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada" de Carolina Maria de Jesus - Escritora negra brasileira, catadora de papéis e moradora da Favela do Canindé, em São Paulo, 1914-1977) O dia está triste, a minha alma também. Deixei o João fechado, estudando. Disse-lhe que o homem que erra está vacinado na opinião pública. O que eu observo é que os que vivem na favela não podem esperar boa coisa do ambiente. São os adultos que contribuem para delinquir os menores. Veio a D. Silvia reclamar contra os meus filhos. Que os meus filhos são mal educados. Mas eu não encontro defeito nas crianças. Nem nos meus nem nos dela. Sei que criança não nasce com senso. Quando falo com uma criança lhe dirijo palavras agradáveis. Sei dominar meus impulsos. Tenho apenas dois anos de grupo escolar, mas procurei formar o meu caráter. Refleti: preciso ser tolerante com os meus filhos. Eles não têm ninguém no mundo a não ser eu. Como é pungente a condiçã...
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  CULTURA, POLÍTICA E PODER Por MARIO VARGAS LLOSA (Arequipa, Peru, 1936 - Lima, Peru, 2025. Escritor peruano vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2010) Cultura não depende de política, em todo caso não deveria depender, embora isso seja inevitável nas ditaduras, principalmente as ideológicas ou religiosas, aquelas em que o regime se sente autorizado a ditar normas e estabelecer cânones dentro dos quais a vida cultural deve desenvolver-se, sob a vigilância do Estado empenhado em não permitir que ela se afaste da ortodoxia que serve de sustentáculo aos governantes. O resultado desse controle, como sabemos, é a progressiva transformação da cultura em propaganda, ou seja, em sua degeneração por falta de originalidade, espontaneidade, espírito crítico e vontade de renovação e experimentação formal. Numa sociedade aberta, embora a cultura se mantenha independente da vida oficial, é inevitável e necessário que haja relação e intercâmbios entre cultura e política. Não só ...
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  A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO ESCOLAR Por DERMEVAL SAVIANI (Santo Antônio de Posse - SP, 1943. Professor emérito da Universidade de Campinas - UNICAMP e coordenador geral do Grupo Nacional de Estudos e Pesquisas História, Sociedade e Educação no Brasil - HISTEDBR) Considerando que as caraterísticas especificamente humanas não estão inscritas na genética e, portanto, não são herdadas pelos indivíduos ao nascer, mas são produzidas historicamente, elas devem ser adquiridas por meio da atividade educativa. É, pois, pela educação que os indivíduos da espécie humana se apropriam das objetivações historicamente produzidas e que já se encontram em seu contexto desde o nascimento. E isso não ocorre simplesmente por osmose. Podia antes ocorrer por processos espontâneos. Mas na contemporaneidade já se incorporaram ao modo de vida humano elementos formalmente construídos e sistematicamente elaborados que exigem, também, processos formais e sistemáticos de aquisição. É esse fato históric...
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  ESCOLAS CÍVICO-MILITARES: PARA QUÊ? PARA QUEM? Por SILVIO GALLO (Professor da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP) A Direção da Faculdade de Educação da Unicamp, por solicitação do Conselho Tutelar de Campinas, pediu-me que me manifestasse, por meio deste parecer, sobre o projeto de escolas cívico-militares, visto que o Governo do Estado de São Paulo e a Prefeitura Municipal de Campinas declararam publicamente a intenção de aderir ao projeto. As opiniões aqui declaradas são de minha inteira responsabilidade, mas penso que, de modo geral, elas reflitam o pensamento de um amplo conjunto de colegas da FE. O Programa Nacional de Escolas Cívico-Militares foi instituído através do Decreto nº 10.004, de 5 de setembro de 2019, "com a finalidade de promover a melhoria na qualidade da educação básica no ensino fundamental e no ensino médio", segundo seu artigo primeiro. Prevê uma articulação entre o Ministério da Educação e o Ministéri...
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  OS MISERÁVEIS - Poema Por SÉRGIO VAZ [Ladainha - MG, 1964. Poeta da periferia e fundador da Cooperativa Cultural da Periferia (COOPERIFA) em Taboão da Serra - SP e organizador da Semana de Arte Moderna da Periferia] Vítor nasceu… no Jardim das Margaridas. Erva daninha, nunca teve primavera. Cresceu sem pai, sem mãe, sem norte, sem seta. Pés no chão, nunca teve bicicleta. Já Hugo, não nasceu, estreou. Pele branquinha, nunca teve inverno. Tinha pai, tinha mãe, caderno e fada madrinha. Vítor virou ladrão, Hugo salafrário. Um roubava pro pão, o outro, pra reforçar o salário. Um usava capuz, o outro, gravata. Um roubava na luz, o outro, em noite de serenata. Um vivia de cativeiro, o outro, de negócio. Um não tinha amigo: parceiro. O outro, tinha sócio. Retrato falado, Vítor tinha a cara na notícia, enquanto Hugo fazia pose pra revista. O da pólvora apodrece penitente, o da caneta enriquece impunemente. A um, só resta virar crente, o outro, é candidato a presidente.
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  A DIFERENÇA ENTRE PLANEJAMENTO E PLANO NA ÁREA EDUCACIONAL Por JORGE ESCHRIQUI * PLANEJAMENTO (plano das ideias): é o processo mental de elaboração de estratégias para a tomada de ações objetivando a aprendizagem dos conteúdos e o desenvolvimento de habilidades e competências por parte dos alunos (centro do processo de ensino-aprendizagem na educação escolar); * PLANO (plano físico): é o documento escrito oriundo do processo mental de planejamento no qual devem constar as políticas e diretrizes educacionais, metodologias de ensino, objetivos do processo ensino-aprendizagem e conteúdos curriculares presentes numa determinada etapa/nível da vida escolar visando o aprendizado e o desenvolvimento físico, intelectual, cultural e social dos estudantes. É a formalização do processo de planejar. Os diferentes planejamentos existentes na área educacional têm os seus respectivos modelos de planos, como se pode observar a seguir: (1) PLANEJAMENTO EDUCACIONAL : diz res...
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SOBRE OS CONCEITOS DE AVALIAÇÃO QUANTITATIVA E AVALIAÇÃO QUALITATIVA NA EDUCAÇÃO BÁSICA (AVALIAR PODE SER UM MECANISMO PEDAGÓGICO DE EVASÃO ESCOLAR, REPRODUÇÃO DAS DESIGUALDADES E EXCLUSÃO SOCIAL?) Por JORGE ESCHRIQUI A partir da década de 1960, surgiram inúmeras críticas aos modelos e práticas de avaliação baseados na concepção tecnicista e quantitativa, caracterizada pelos testes padronizados de rendimento escolar que não proporcionam as informações suficientes para se compreender efetivamente a qualidade do que é ensinado pelo professor e aprendido pelos alunos. Diante da necessidade de uma revisão e superação de um processo avaliativo fundamentado no tecnicismo, diversas correntes pedagógicas e autores propuseram enfoques de avaliação alternativos, com pressupostos éticos, epistemológicos e teóricos diferentes, mas que convergiam para um aspecto em comum: a priorização dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos para o acompanhamento, a análise e a intervenção para ...